O Papa Francisco afirmou nesta terça-feira (28) que está disposto a dizer pessoalmente ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que é errado construir muros nas fronteiras. O pontífice também criticou a política de separação de famílias, que causou comoção no ano passado. Numa entrevista à rede mexicana Televisa, exibida nesta terça-feira, o Papa também minimizou as críticas de católicos ultraconservadores que o chamam de herege.
Francisco, que já adotou postura divergente à de Trump em temas ligados à imigração, debateu a situação na fronteira EUA-México com Valentina Alazraki, repórter mexicana que trabalha no Vaticano. “Não sei o que está acontecendo com esta nova cultura de defender territórios construindo muros. Já conhecemos um, aquele em Berlim, que trouxe tantas dores de cabeça e tanto sofrimento”, disse, para depois acrescentar que separar crianças dos pais vai contra a lei natural “E aqueles cristãos… não se faz isso. É cruel. Está entre as maiores crueldades. E para defender o quê? Territórios, ou a economia de um país ou sabe lá o quê.”
Indagado se diria a Trump a mesma coisa cara a cara se o presidente estivesse sentado diante dele, Francisco respondeu: “O mesmo. O mesmo porque o digo publicamente… Eu até disse que aqueles que constroem muros acabam sendo prisioneiros dos muros que constroem”.
Muro na fronteira
Trump, que se encontrou com Francisco no Vaticano em 2017, diz que o muro é necessário para lidar com uma crise de drogas e crimes na fronteira com o México. Para levar seu projeto adiante, ele entrou em rota de colisão com a Câmara dos Deputados, agora comandada pelos democratas, e com alguns juízes.
No ano passado, Francisco criticou a diretriz do governo norte-americano de separar filhos e pais que atravessaram ilegalmente a fronteira, que o presidente reverteu mais tarde devido à revolta generalizada.
No mês passado, Trump negou reportagens segundo as quais seu governo está cogitando reativar a diretriz. Não há mais nenhum encontro planeado entre Trump e o pontífice.
Francisco também foi questionado sobre um grupo de ultraconservadores que, no início deste mês, iniciou uma campanha de assinaturas fazendo um apelo a bispos para denunciá-lo como herege por causa de seus posicionamentos. O Papa disse que não se sente magoado e que recebeu a notícia “com senso de humor”. “Rezo por eles porque estão errados e, pobres coitados, alguns deles estão sendo manipulados.”
C/Globo.com