Mais de 70 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas ou dos seus países em 2018 devido às guerras ou perseguições, indica o relatório anual “Tendências Globais” do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Este revela ainda que os níveis de deslocamento são hoje o dobro do que eram há 20 anos, confirmando a tendência crescente do número de pessoas que precisam de protecção internacional.
É um novo recorde quebrado no mundo em 2018 e mostra, pelo sétimo ano consecutivo, que o aumento do número de deslocados. “As tendências globais, mais uma vez infelizmente, vão na direção errada”, afirmou o responsável da agência das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, durante a apresentação do relatório em Genebra. “Há novos conflitos, novas situações, que criam novos refugiados, somando-se aos antigos. Os casos antigos nunca são resolvidos”, acrescentou.
O fenómeno cresce em tamanho e duração. Cerca de quatro quintos das “situações de deslocados” duraram mais de cinco anos. É o caso da Síria que, após oito anos de guerra, o seu povo continua a constituir a maior população de deslocadas à força, cerca de 13 milhões. A Venezuela, que atravessa uma grave crise humanitária e política, é pela vez primeira o país com o maior número de novos pedidos de asilo, com mais de 340 mil.
O ACNUR ressalvou que os seus números são “conservadores” e na Venezuela a situação poderá ser bastante pior. Sabe-se que cerca de 4 milhões de pessoas deixaram o país sul-americano nos últimos anos. Muitos deles viajaram livremente para o Peru, Colômbia e Brasil, mas apenas cerca de um oitavo destes procuraram proteção internacional formal. E as tensões nos países de acolhimento podem piorar, avisou a ACNUR.
Grandi prevê um êxodo contínuo da Venezuela e apela a mais ajuda dos países e organizações para o desenvolvimento da região, “caso contrário, esses países não aguentarão mais a pressão e terão que recorrer a medidas que prejudiquem os refugiados. Estamos numa situação muito perigosa”, disse.
Apesar das políticas crescentes de anti-imigração, os EUA continuam a ser “o maior defensor dos refugiados” no mundo, disse Grandi. Os EUA são também o maior doador individual do ACNUR. Contudo, observou falhas administrativas de longo prazo que deram aos Estados Unidos o maior número de pedidos de asilo em todo o mundo, com quase 719.000. Mais de um quarto de milhão de reclamações foram adicionadas no ano passado.
O responsável pelo ACNUR criticou ainda a retórica recente que tem, na sua opinião, sido hostil a migrantes e refugiados, um pouco por todo o mundo. “Na América, assim como na Europa e em outras partes do mundo, o que estamos a testemunhar é a ideia de que os refugiados ameaçam os nossos empregos, a nossa segurança e os nossos valores”, disse. “E eu quero dizer ao governo dos EUA — ao presidente — mas também aos líderes do mundo todo: isso é prejudicial”, acrescentou.
O relatório do ACNUR observou que, de longe, a maioria dos refugiados são de países em desenvolvimento, não de países ricos.
C/Imprensa internacional