A floresta Amazónia nunca voltará a ser como dantes. A previsão é do professor do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Jerónimo Sansevero. Em entrevista à BBC Brasil, publicada, o académico fala de “uma perda irreparável”. “Nunca tivemos uma perda tão alta nas últimas três décadas”.
A Amazónia perdeu por em pouco mais de duas semanas mais do que o território da Alemanha, em área de floresta, entre 2000 e 2017. Isso corresponde à perda de cerca de 400 mil quilómetros quadrados de área verde, segundo um estudo da Universidade de Oklahoma, nos EUA, publicado na revista “Nature Sustainability”. Este valor é mais do dobro da área registada no mesmo período pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que foi de 180 mil quilómetros quadrados.
Sansevero acredita que será possível recuperar alguma da área ardida, mas será sempre “uma menor parte” e serão precisas pelo menos duas décadas. Especialista em renovação ambiental, este professor da UFRRJ explica que a possibilidade de recuperação da área desmatada depende, em primeiro lugar, da dimensão do impacto causado na vegetação original. E compara a situação com traumas humanos: “Alguns traumas a gente consegue superar, mas outros têm um impacto tão grande que você não consegue voltar ao que era antes.”
Dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) revelam que os quase 73 mil focos de incêndio no Brasil, registados entre 1 de janeiro e 19 de agosto, representam um aumento de 83% relativamente ao ano passado.
Já a agência EFE noticia que o fumo dos incêndios florestais que lavram na Amazónia, no Brasil e na Bolívia, já chega a algumas províncias do Peru. A informação foi revelada por fontes do Centro de Operações de Emergência Regional da região peruana de Madre de Deus. Trata-se de uma cortina de fumo que começou por surgir na província de Tambopata, situada naquela região, devido ao ar que chega dos dois países vizinhos.
O Presidente Jair Bolsonaro declarou ontem que organizações não-governamentais, com intenção de prejudicar o seu Governo, podem ser as responsáveis pelos incêndios na Amazónia. “O crime existe e isso aí nós temos de fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tirámos dinheiros de ONG. Dos repasses de fora, 40% iam para as ONG. Não tem mais. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro”, afirmou.
Bolsonaro disse estranhar os incêndios deflagrarem em diversas áreas e, por isso, acredita que pode fazer parte de um plano para o atingir. “Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses ongueiros [funcionários das ONG] para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o Governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”.
O chefe de Estado do Brasil não apresentou provas para fundamentar as suas suspeitas. No entanto, reiterou que as ONG que atuam na proteção do ambiente no Brasil estão ao serviço de “interesses estrangeiros”.
C/ Expresso.pt
Foto: El País