Um grupo de 59 sul-africanos brancos chegou aos Estados Unidos ontem, segunda-feira, onde deve receber status de refugiado. Este processo é sustentado pelo Presidente Donald Trump, que acusa o governo da África do Sul de discriminação racial. Trump afirmou que os pedidos de refúgio feitos por integrantes da minoria afrikaners (descendentes de colonos holandeses e outros europeus) foram acelerados porque estaria ocorrendo um genocídio nesse país. Alegou ainda que os agricultores brancos eram os principais visados.
“Estão matando agricultores. Eles são brancos, mas, para mim, não faz diferença se são brancos ou negros”, declarou o líder norte-americano, que, conforme a imprensa internacional, suspendeu, entretanto, todas as outras admissões de refugiados, inclusive de pessoas provenientes de zonas de guerra. Aliás, a organização Human Rights Watch classificou a medida como uma distorção racial cruel, afirmando que milhares de pessoas — entre elas, muitos refugiados negros e afegãos — tiveram o pedido de asilo negado pelos EUA.
Conforme a imprensa internacional, o processamento de pedidos de refúgio nos EUA costuma levar meses — em alguns casos, anos —, mas esse grupo teve o processo acelerado. A ACNUR, agência de refugiados da ONU, confirmou ao jornal BBC que não participou da triagem, como geralmente ocorre.
Esta medida foi criticada pelo governo sul-africano, que afirmou não haver nenhum tipo de perseguição que justifique a concessão do estatuto de refugiado ao grupo de cidadãos brancos. “Reiteramos que as alegações de discriminação são infundadas”, afirmou o Ministério das Relações Interiores na sexta-feira, para quem a decisão do governo Trump de reinstalação de sul-africanos brancos foi concebida para questionar a democracia constitucional sul-africana.
“Um refugiado é alguém que precisa deixar seu país por medo de perseguição política, religiosa ou económica”, afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. “E esse grupo não se enquadra nesses critérios.”
Ao ser questionado pela BBC sobre o assunto, Christopher Landau, o subsecretário de Estado norte-americano, afirmou que não é surpreendente que um país de onde saem refugiados não reconheça que eles são, de fato, refugiados. Esse jornal relembra que os EUA vêm criticando políticas internas da África do Sul, acusando o governo de confiscar terras de agricultores brancos sem qualquer compensação.
Em janeiro, o presidente Ramaphosa homologou uma polêmica lei que permite ao governo confiscar propriedades privadas sem indenização, em determinadas circunstâncias, quando isso for considerado “justo e de interesse público”. No entanto, o governo afirma que nenhuma terra foi confiscada até agora com base nessa legislação.
A administração Trump salienta que a reinstalação dos 59 sul-africanos é apenas o início do programa. O grupo de sul-africanos brancos desembarcou no Aeroporto Dulles e foi calorosamente recebido pelas autoridades americanas. Alguns presentes agitavam bandeirinhas dos EUA na área de desembarque, decorada com balões nas cores vermelha, branca e azul.
Relembre-se que os afrikaners constituem uma minoria étnica branca que criou e implementou o brutal sistema de apartheid da África do Sul, que durou desde o final da década de 1940 até ao início da década de 1990.
C/ BBC, Euronews, Globo.com