Pelo menos 104 pessoas morreram vítimas das chuvas mais intensas dos últimos 90 anos em Petrópolis, antiga cidade imperial portuguesa, onde era travada esta quarta-feira uma corrida contra o tempo para encontrar eventuais sobreviventes debaixo da lama e dos escombros. Destas, oito eram crianças, de acordo com as autoridades. O Governador classificou a situação de quase guerra. “Vimos carros pendurados em postes, carros virados de cabeça para baixo e muita lama e água”, descreveu.
Dezenas de casas continuavam soterradas sob toneladas de lama, rochas e árvores e havia dezenas de desaparecidos. Moradores e voluntários, muitos deles com familiares e amigos mortos ou ainda desaparecidos, juntaram-se às equipas de resgate, escavando os escombros, nalguns casos com as próprias mãos, tentando desesperadamente encontrar sobreviventes ou resgatar corpos. Muitos arriscavam a própria vida, pois ao longo de todo o dia os deslizamentos de terras continuaram, e os bombeiros, muito criticados, só agiam em áreas consideradas seguras.
Numa das áreas mais atingidas, o bairro Alto da Serra, no Morro da Oficina, sobreviventes passaram o dia a resgatar os corpos de familiares e vizinhos sob a lama e depois carregavam-nos, em lágrimas, até uma base de apoio montada pelos bombeiros numa área mais afastada. No centro da cidade, a água da chuva, misturada com a que transbordou dos rios e dos esgotos, atingiu mais de dois metros de altura dentro de residências e comércios, e ainda se viam árvores a boiar nas ruas e até carros em cima de casas. À medida que a água começou a baixar, as cenas de terror ficaram ainda mais visíveis, com o aparecimento de muitos corpos que estavam submersos.
Noutro drama humano, funcionários e professores tentavam localizar os pais ou outros responsáveis de mais de 100 crianças que ninguém foi buscar ao fim do dia na terça-feira, no pior momento do temporal, e que continuavam nesses estabelecimentos de ensino, não se sabendo se os pais morreram na tragédia ou ficaram isolados e sem comunicações. Vídeos viralizaram nas redes sociais mostrando imagens chocantes de algumas vias de Petrópolis transformadas em rios caudalosos, arrastando tudo pelo caminho com uma força descomunal.
O governador Cláudio Castro, que está nesta cidade da Região Serrana, disse que “foi a pior chuva desde 1932. Realmente, foram 240 milímetros em coisa de duas horas. Foi uma chuva altamente extraordinária”, afirmou. O Corpo de Bombeiros ainda não sabe o número de desaparecidos, mas o cadastro do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), feito até o início da noite de ontem, indica que ao menos 35 são procuradas. Diz ainda que 54 casas foram destruídas pelas chuvas que atingiram a região e mais de 370 pessoas foram acolhidas em abrigos improvisados.
A Prefeitura de Petrópolis decretou estado de calamidade pública e informou que as equipes dos hospitais foram reforçadas para o atendimento às vítimas.
Fonte: Plataformamedia.com