Mais de 300 ativistas, incluindo indígenas que participavam de um protesto, arrombaram a porta da Blue Zona, na cidade amazônica de Belém, local que sedia a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Uma pessoa ficou ferida.
A notícia foi avançada hoje por várias agências de notícias. Estas relataram que várias dezenas de homens e mulheres, alguns com toucados de penas coloridas, correram pela entrada, arrancando pelo menos uma porta das dobradiças, antes de passarem pelos detectores de metais e entrarem na Zona Azul.
Os seguranças da ONU apressaram-se a impedi-los, o que levou a confrontos. Pelo menos um homem não indígena transportava uma faixa com a frase “As nossas florestas não estão à venda”. Outros vestiam t-shirts com a inscrição “Juntos”. Agitavam faixas e entoavam cânticos até serem retirados à força.
Um porta-voz da ONU para o clima disse que dois seguranças sofreram ferimentos ligeiros e que houve pequenos danos no local. Após o confronto, os manifestantes abandonaram o local, cerca das 19h30 de Brasília, e os bombeiros formaram um cordão para bloquear a entrada.
Ainda não é claro quem foi o responsável pela invasão. Mas pelo menos um observador ficou impressionado: “Finalmente, algo aconteceu aqui”, afirmou à Associated Press Juan Carlos Gómez, negociador climático panamiano. Já Agustin Ocaña, da Global Youth Coalition disse que algumas das pessoas que entravam gritavam “não podem decidir por nós sem a nossa presença”, referindo-se às tensões sobre a participação dos povos indígenas na conferência.
Enquanto seguranças e manifestantes se confrontavam, Ocaña disse ter visto manifestantes e seguranças a agredirem-se uns aos outros com pequenos recipientes usados para guardar objetos perto das entradas de segurança. Um guarda estava a sangrar após ter sido atingido na cabeça, relatou.
Ocaña relatou que algumas comunidades indígenas estavam frustradas por verem recursos a serem despejados na construção de “uma cidade nova” em Belém, quando era necessário investimento na educação, saúde e proteção florestal noutras áreas. “Não estavam a fazer isto por serem más pessoas. Estão desesperados, tentando proteger as suas terras, o rio Amazonas”, acrescentou.
Impacto da crise climática na saúde
“A crise climática é uma crise de saúde”, entoavam ainda os participantes na marcha, entre os quais havia profissionais de saúde e indígenas amazónicos, segundo a agência Efe. Em poucas regiões se sente tanto o impacto das alterações climáticas na saúde como na Amazónia, onde se situa Belém e que, em 2024, foi atingida por uma seca histórica, agravada por múltiplos incêndios.
Já o jornal Folha de São Paulo indicou que vários manifestantes gritavam que era necessário “taxar os bilionários”, e que entoaram cânticos contra a exploração de petróleo na perto da foz do Amazonas. “Governo Lula, que papelão, destrói o clima com essa perfuração”, diziam, noticia o jornal.
O porta-voz da ONU explicou que os agentes de segurança brasileiros e das NU tomaram “medidas de proteção para garantir a segurança do local, seguindo todos os protocolos de segurança estabelecidos”e que estão a investigar o incidente. “O local está seguro e as negociações da COP continuam”.
Cúpula dos povos
Ao contrário das três COP anteriores, realizadas em países com diferentes graus de autoritarismo, os anfitriões brasileiros estão a encorajar a sociedade civil e as manifestações de rua a desempenharem um papel nesta conferência. Os grupos indígenas e as ONG estão mais visíveis dentro e fora do local, ajudando a equilibrar a presença de lobbies que dominaram os encontros climáticos.
Uma “cúpula dos povos” vai decorrer entre amanhã e sexta-feira, e uma manifestação global da juventude terá lugar na sexta-feira, estando a maior manifestação agendada para sábado. O número de ativistas têm vindo a aumentar na última semana e já estão a organizar até quatro eventos por dia, todos pacíficos até então. Na terça-feira, registaram-se protestos de um coletivo feminista, apoiantes da Palestina e de um grupo de saúde e ambiente.
Mais ativistas chegarão quinta-feira numa flotilha, com cerca de 100 embarcações, liderada por dois dos mais respeitados líderes indígenas da floresta amazónica, Raoni Metuktire e Davi Kopenawa Yanomami. A COP30 decorre em Belém até 21 de novembro e reúne representantes de governos, organizações internacionais e movimentos da sociedade civil para debater políticas de combate às alterações climáticas.
