Piroc, uma figura da ilha do Monte Cara conhecido até por grandes personalidades que antes frequentavam a casa da célebre artista Cesária “Cise” Évora, vive o contraste do que foi a sua vida antes da morte da eterna “diva dos pés descalços”. Com imensas dificuldades financeiras, que o impedem até de colocar comida na panela e comprar remédios, este morador da Ribeira Bote vive de pequenas ajudas de amigos.
“Primeiro faleceu minha mãe e no ano seguinte morreu a minha Cise, e nada foi como dantes. Como se não bastasse a dor destas perdas, perdi depois a minha amiga de longa data, a Nanda, filha da Cise, e ainda minha irmã que vivia na Itália”, lamenta Piroc.
A sua relação com Cesária Évora era mais do que de patroa para empregado. Era tido como um filho, a quem a cantora confiava os cuidados dos netos e da sua casa, quando se ausentava de Cabo Verde.
De nome próprio, José Carlos Delgado, hoje com 53 anos de idade, Piroc diz não ter “manha” de nada, por ter desfrutado uma vida de glória, sem que nunca antes lhe tenha faltado qualquer coisa, ter frequentado na juventude os locais que quis, comido e bebido “do melhor” que havia. No entanto, refere-se a saudades destes tempos em que não lhe faltava uma sopa “de osso de vaca” na panela e nem precisaria sentar-se ao pé da sua casa, ou do antigo salão de beleza Gia, à espera de passar “uma alma bondosa” que lhe dê qualquer coisa.
A sua saúde atualmente vem se deteriorando, pela diabete e pelo que diz ser “fraca circulação de sangue”, que não lhe permite estar de pé por muito tempo. A sua imagem contrasta com as fotografias do jovem cheio de vida e energia que outrora foi, que recebia ilustres convidados na antiga residência da consagrada rainha da Morna.
Recebeu ministros, chefes de Estados e grandes artistas nacionais e internacionais, como a cantora brasileira Alcione, que um dia diz ter ficado encantado consigo. Da “vida de sonho” que passou ao lado de Cise, Piroc lembra-se ainda de uma viagem que fez a Paris, mas que foi obrigado a regressar antes do tempo previsto porque “tinha de tomar conta da casa”.
Hoje tem aos seus cuidados a antiga residência da sua mãe, em decadência, na Ribeira Bote, onde vive com o irmão, dois cães e três gatos.
Sidneia Newton