Profissionais de pesca desportiva em CV preocupados com impacto do projecto Nortuna na cadeia alimentar dos marlins

Donos de dois veleiros ligados à pesca do marlin em S. Vicente estão preocupados com os impactos que o projecto Nortuna possa ter nas suas actividades se os atuns criados nos cativeiros forem alimentados com a cavala e olho largo. A acontecer isso, dizem, a cadeia alimentar dos marlins será afectada e afugentar esses peixes muito procurados pela pesca desportiva no mar de Cabo Verde. “E não só, o próprio abastecimento do mercado nacional com a cavala será prejudicado. Certamente que os pescadores irão preferir vender o seu pescado à Nortuna e aumentar o preço e a disponibilidade da cavala”, prognosticam esses velejadores.

Como explicam, o atum é um animal voraz, capaz de comer toneladas de cavala em pouco tempo, o que vai implicar a captura de uma enorme quantidade desse alimento. “Se alimentarem os atuns com ração, como se faz, por exemplo, no Mediterrâneo, não haverá problema”, dizem os entrevistados do Mindelinsite, que pretendem abordar o assunto com o responsável do projecto da Nortuna, que está a ser implementado na praia do Flamengo, em S. Vicente. O mesmo visa a produção de atum em larga escala em cativeiro para exportação.

A pesca desportiva, realçam as nossas fontes, é das actividades que mais dinheiro injecta directamente na economia mindelense. Os adeptos deste desporto chegam da Austrália aos Estados Unidos e alguns passam 3 a 4 meses no arquipélago gastando dólares e euros em hotéis, transportes, alimentação e aluguer de iates. “Cabo Verde ganhou fama mundial pela quantidade de peixes de grande porte e isso atrai os amantes da pesca desportiva”, dizem, realçando que já foram capturadas em Cabo Verde espécies que permitiram a conquista de títulos mundiais e recordes. “Cabo Verde sai em tudo quanto é revista de pesca desportiva a nível internacional.”

Pelas informações que disponibilizaram, está prevista uma prova internacional em Cabo Verde em maio de 2022, enquadrada no circuito europeu de pesca desportiva. A competição era para acontecer no ano passado, mas foi adiada duas vezes devido a pandemia. O torneio deve envolver 11 países europeus e Angola. Cabo Verde está a preparar também a sua equipa.

Pelos dados que possuem, há neste momento entre 25 a 30 barcos que se dedicam à pesca desportiva no arquipélago. Dezassete das unidades têm a sua base em S. Vicente. 

Estes desportistas asseguram que 99 por cento dos exemplares pescados são marcados e libertados. As espécies são pescadas fundamentalmente a sul de S. Vicente, noroeste de Santo Antão e em S. Nicolau.

O Mindelinsite tentou falar com a CV Tradeinvest, mas sem sucesso, pelo que ficamos abertos a abordar o assunto com essa instituição sobre o projecto Nortuna.

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