Um residente em Cabo Verde, que espera há quatro meses por repatriamento, acusa a TAP de lhe oferecer o tão esperado voo de retorno a 861 euros, só de vinda, a partir de Portugal. A companhia aérea lusa, que efectou uma viagem no dia 15 para a cidade da Praia e outra para Mindelo no dia 16, via Lisboa, garantiu ao Mindelinsite que os passageiros foram informados dos preços via chamada telefónica.
Bruno Ferreira, que foi passar quatro dias em França e acabou quatro meses naquele país à espera de repatriamento, conta que soube do voo da TAP via capital portuguesa e se apressou a inscrever na embaixada para repatriamento. Este revela que, a dois dias da vigem recebeu uma chamada da TAP informando-o que o bilhete a partir de Lisboa para Mindelo, no dia 16, custaria 861 euros e com direito a apenas uma mala de 23 quilos.
“Desde o início do mês de julho soube deste voo de repatriamento e solicitava, constantemente, informações sobre o preço do bilhete, mas a companhia fazia muito mistério. Por causa disso, já imaginava que seria um preço exorbitante. Ao todo a minha ida Paris/Lisboa/Mindelo ficaria por 124. 600 escudos, contando ainda com o teste de despistagem da Covid-19″, assegura o entrevistado, que se mostrou incrédulo com o valor.
Inconformado, procurou outras soluções e encontrou um voo via Holanda, de uma outra companhia, a um terço do preço praticado pela companhia de bandeira portuguesa. Ferreira acredita que não há transparência nos preços cobrados pela TAP aos passageiros em processo de repatriamento. Diz ainda não entender os acordos entre o Governo, esta companhia aérea e os demais país de onde já foram repatriados algumas pessoas.
“Porque é que Cabo Verde não aceitou voos a partir de França, Luxemburgo e Itália, por exemplo? Porque é que alguns passageiros foram repatriados de graça e nós nem com pagamento aceitaram nos levar?”, interroga Ferreira, realçando que este direito foi-lhe negado a si e a outros crioulos, apenas porque Cabo Verde não ter condições de negociar com estes países.
Este acusa, por outro lado, as autoridades nacionais, incluindo as representações diplomáticas de Cabo Verde de lhe ter abandonado, junto com outros cidadãos, nos países de acolhimento durante a pandemia.
Contactada para esclarecimento, a companhia aérea portuguesa explicou que não existe operação regular comercial, por estarem em vigor medidas sanitárias que restringem o transporte de passageiros entre Portugal e Cabo Verde. Adianta que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal solicitou ao Governo de Cabo Verde uma autorização especial para a realização de alguns voo extraordinários de repatriamento.
Esclarece que a TAP está a transportar apenas os passageiros que constam das listas fornecidas pela Embaixada de Portugal em Cabo Verde. O mesmo acontece no sentido contrário, ou seja, a Embaixada de Cabo Verde em Portugal enviou uma lista e a companhia entre em contacto com os passageiros, para saber da sua disponibilidade para viajar.
Os restantes lugares, explica, são preenchidos com passageiros que já eram portadores de bilhetes para voos da TAP e viram esses voos cancelados. Revela ainda que os preços dos bilhetes restantes são atribuídos mediante a procura. “Se, depois de asseguradas todas estas prioridades, ainda restarem alguns lugares disponíveis, estes podem ser vendidos de acordo com a procura existente”, responde a TAP.