Um ano e 15 dias após subir para os estaleiros navais da Cabnave, o navio Nôs Ferry Mar d’Canal voltou esta manhã a flutuar no mar e levado por dois rebocadores para o cais comercial do Porto Grande. Este momento foi acompanhado com júbilo por técnicos da doca-seca, mas principalmente pelos armadores Vlademiro “Vlú” Ferreira e Adriano Lima.
“Estou muito contente porque este é o resultado de um grande trabalho e desafio assumido por uma equipa competente e pela própria Cabnave. A reparação de Mar d’Canal fica na história deste estaleiro naval como das mais significativas tanto em volume de trabalho como de encaixe financeiro”, enfatizou Vlademiro, enquanto acompanhava a viagem do navio pela baía da Lajinha à caminho do Porto Grande da Enapor. Uma vez atracado, técnicos da Cabnave vão proceder ao alinhamento dos motores. Concluído este processo, o barco será sujeito ao teste de mar e, pelas contas do citado armador, poderá fazer a primeira viagem daqui a 15 dias.
Segundo Vlú, como é conhecido, “Nôs Mar d’Canal” foi sujeito a uma reparação tão profunda, orçada em 2,7 milhões de dólares, que passou a ter estatuto de navio reconstruído em 2021, e não fabricado em 1970. “Nunca o barco teve o conforto que agora possui”, garante. Indo mais ao pormenor, explica que renovaram as chapas, foi feita uma revisão e renovação completa dos motores, o interior dos tanques reforçado, colocadas balizas e anteparas, tecnologia moderna de navegação, salão de passageiros renovado… O barco pode agora fazer o percurso S. Vicente / Santo Antão em menos tempo.
Tudo isso pensado e concretizado por técnicos cabo-verdianos. “Temos pessoal qualificado e competente em Cabo Verde. Podemos pegar neste país e coloca-lo aonde quisermos”, comenta Vlú, para quem “Mar d’Naval” vai reforçar a ligação entre o Porto Grande e Porto Novo, uma linha que, diz, precisa ter no mínimo dois navios em movimento para não afectar a economia das ilhas de S. Vicente e de Santo Antão.
“Mar d’Canal” entra para a história da Cabnave
Domingos Santos, gestor da Cabnave, confirma que renovar Nôs Ferry Mar d’Canal entrou para a história dos estaleiros navais. “Fica entre as 4/5 melhores reparações que a empresa já efectuou desde que foi criada”, aponta. Segundo Santos, o trabalho envolveu praticamente todos os sectores dos estaleiros e acabou por ser um enorme desafio. Especifica que tiveram de substituir aço, os tanques de lastro, rever as máquinas, etc., faltando agora alinhar os motores para poderem entregar o navio aos donos.
Como é natural, diz, surgiram contratempos, que prolongaram o tempo de trabalho previsto. Porém, assegura, houve sempre uma excelente relação cliente/empresa. “O que importa é que o barco sofreu uma profunda reparação e atesta a capacidade técnica da Cabnave”, enfatiza o gestor.
A Cabnave, adianta Santos, teve a sorte de renovar os navios 13 de Janeiro e Nôs Mar d’Canal em plena pandemia. Trabalhos que possibilitaram um encaixe financeiro interessante e que permitiram a empresa fechar o ano 2020 com um ligeiro saldo negativo. “Aqui na Cabnave não fizemos o lay-off, o pessoal manteve-se activo e os trabalhadores receberam os seus salários durante o estado de emergência”, informa Domingos Santos.
Este administrador defende, no entanto, novos investimentos nos estaleiros navais, principalmente no domínio da segurança das operações. Santos adianta que tem estado a sensibilizar o Governo neste sentido porque a empresa precisa dar garantias de segurança no movimento de navios pesados do mar para a plataforma/parque e vice-versa.
Questionado se faz sentido investir neste momento na Cabnave quando o Governo fala no seu desmantelamento desse local no quadro do projecto da Zona Económica Maritima Especial, Santos relembra que esse processo só será executado quando outro estaleiro estiver pronto. “Isto não é algo que vai acontecer daqui a 3/4 anos, mas sim daqui a uns 15/20 anos. Por isso faz sentido investir aqui onde está neste momento por uma questão de segurança”, defende Domingos Santos.
O navio Nôs Mar d’Canal começou a ser levado para o mar às sete horas e vinte minutos e essa operação foi concluída cerca de duas horas depois. O barco já se encontra no Porto Grande onde vai ser sujeito aos últimos ajustes, teste de mar e receber a certificação para começar a navegar na linha entre S. Vicente e Santo Antão.