Um homem que queira acompanhar o nascimento do seu filho, mesmo em caso de cesariana, poderá ter esse privilégio no hospital Urgimed Health & Hospitality através de uma sala equipada com câmara de observação. Esta é uma das muitas valências dessa clínica-hospitalar, cuja primeira fase foi inaugurada ontem à tarde na cidade do Mindelo e representou um investimento privado de dois milhões e quinhentos mil euros, capital 100% nacional. Essa particularidade foi elencada pelo empresário Júlio Wahnon, que se mostrou emocionado com a concretização desse sonho, cuja primeira pedra foi lançada em 2020, ano do surgimento da pandemia.
Segundo esse médico, devido aos impactos mundiais da Covid-19, o projecto acabou por ficar mais caro com o aumento do custo dos materiais. Nada disso, no entanto, desviou o foco dos investidores residentes e emigrantes. Concluída a primeira etapa do hospital, Wahnon espera poder dar corpo à segunda fase, por acreditar no papel que esse hospital pode desempenhar no desenvolvimento de Cabo Verde.
Localizado na zona de Cruz João Évora, o estabelecimento pretende servir toda a população residente no arquipélago, conquistar a preferência dos emigrantes e dos turistas que visitam a ilha de S. Vicente. “Face ao aumento da expectativa dos cabo-verdianos e a dinâmica do turismo é necessário que o sector privado da saúde se desenvolva e se afirme cada vez mais como um complemento do sector público”, considera o sócio-gerente da Urgimed, uma iniciativa do casal Júlio e Alícia Wahnon nascida num “cubículo” na cidade do Mindelo e que hoje deu um pulo inimaginável. Hoje a Urgimed é dona de um hospital equipado com bloco cirúrgico, maternidade, capacidade de internamento, área de urologia, ginecologia, ortopedia, otorrino…
Aproveitando a presença do Primeiro-ministro na cerimónia, Júlio Wahnon enfatizou que a parceria público/privado, cujo principal objectivo é melhorar a qualidade dos serviços prestados aos cabo-verdianos, deverá contar com o esforço do Governo nas alterações jurídicas necessárias.
Este repto foi aceite por Ulisses Correia e Silva, que prometeu adoptar políticas para clarificar e reforçar a parceria entre o público e o privado na área da saúde. “Queria garantir-vos que é do interesse do Governo trabalharmos neste sentido. O sector público da saúde, através do Sistema Nacional da Saúde, não tem monopólio de prestação de serviço. Deve ser, sim, uma complementaridade”, frisou o Chefe do Governo, que enalteceu a capacidade empreendedora do referido casal de médicos. Como disse, ousaram, acreditaram, mobilizaram investimento e fizeram acontecer. E, segundo Correia e Silva, a ilha de S. Vicente e Cabo Verde agradecem essa iniciativa, principalmente por acontecer num segmento fundamental para o bem-estar geral e a economia que é o da saúde.
Devido a pandemia, disse o governante, a saúde passou a ser um factor distintivo. “Se antes era fundamental, hoje e inegável que não há economia sustentável sem bons serviços de saúde”, deixou claro o Primeiro-ministro, que se mostrou satisfeito pelo facto dos empreendedores terem aproveitado os incentivos fiscais e financeiros de promoção do investimento na saúde. Ele que espera ver outros privados fazerem o mesmo.
O edil Augusto Neves também realçou o poder do sonho, quando leva à concretização de objectivos. Segundo Neves, o acto presenciado tem significado especial para S. Vicente e Cabo Verde e testemunha o esforço complementar do sector privado para a expansão da rede sanitária e prestação de cuidados de saúde à população. No seu discurso, enalteceu o facto de o investimento aumentar a oferta de emprego em S. Vicente e lançou à gerência o desafio de transformarem esse hospital num centro para formação especializada e investigação científica. “Esperamos em breve poder testemunhar a participação do hospital nessas áreas relevantes, a bem da saúde do povo cabo-verdiano”, disse o autarca.
A clínica-hospital deve iniciar o seu funcionamento já no próximo mês de dezembro.