Parte dos funcionários da fábrica de processamento de pescado Atunlo foi dispensada na manhã desta quinta-feira, pouco depois de iniciarem os trabalhos por causa de um cheiro forte, que começava a provocar irritação e tontura às vítimas. Foi a terceira vez que se registou uma intoxicação nesta unidade industrial, que funciona no caís internacional do Porto Grande. Desta vez, ao contrário das outras duas ocorrências, a empresa dispensou os funcionários, evitando assim o alarde provocado quando dezenas de operárias tiveram de ser atendidas na urgência do Hospital Baptista de Sousa.
“Pelo menos nove funcionárias começaram a queixar de tontura e irritação na garganta. De imediato foram dispensadas. Mas, na quarta-feira passada, dia da premiação do Carnaval, trinta operárias foram afectadas. Na altura, fomos enviadas para o balneário e, uma hora depois, pediram-nos para voltar ao trabalho. Esse caso passou despercebido porque as atenções estavam concentradas no Carnaval e também porque aconteceu após o encerramento da Delegacia de Saúde. O problema é que esta situação começa a repetir-se com alguma regularidade e não sabemos quais serão as consequências destas intoxicações”, desabafa uma das funcionárias desta empresa com as quais o Mindelinsite chegou à fala.
De acordo com estas trabalhadores, que dizem estar na empresa há cerca de dois anos, a intoxicação é provocada por produtos que utilizam para fazer a limpeza. “São produtos fortes, que provocam vómito, tonturas, desmaios, irritação na garganta e falta de ar. Da última vez, disseram que utilizaram soda cáustica. Mas agora foi um outro produto, com um nome complicado. A limpeza foi feita no final do dia, depois das 17 horas. Mas trabalhamos numa espécie de uma cave fechada. Para terem uma ideia, trabalhamos com as luzes acesas porque não se vê nada. A ventilação é garantida apenas por aparelhos de ar condicionado. Pensamos que utilizaram o produto e fecharam as portas. Hoje, quando chegamos, fomos sufocadas.”
Entretanto, para além dos produtos de limpeza, as funcionárias dizem conviver diariamente com cheiros nauseabundos que também afectam os trabalhadores do Porto Grande e que, inclusive, já foram denunciados por diversas vezes por pessoas que circulam pelas imediações desta infraestrutura portuária. Para estes trabalhadores, já é tempo das autoridades fazerem alguma coisa para reverter esta situação porque está em causa a saúde pública.
Tentamos falar com um responsável da empresa, mas a única disponível – estava a acontecer uma reunião de direcção nesse instante – foi uma auxiliar administrativa, que confirmou que as funcionárias foram liberadas logo que começaram a queixar-se de mal-estar por causa do cheiro. Esta negou também que qualquer trabalhador da fábrica tenha sido atendido no Hospital Baptista de Sousa. “Na quarta-feira, de facto, nove funcionários foram afectados pelo cheiro, mas hoje agimos rapidamente e todos os trabalhadores foram enviados para casa”, informa.
Esta não conseguiu precisar, no entanto, que tipo de produto foi utilizado na limpeza. Prometeu, no entanto, obter mais informações através da responsável dos Recursos Humanos, o que não aconteceu até a divulgação desta notícia.
Em Maio de 2018, este site noticiou que 29 funcionários da Atunlo foram transportados para o hospital, após sofrer desmaios, minutos depois de começarem a trabalhar. Na altura, estes afirmaram que foram vítimas de intoxicação, provocada por soca cáustica utilizada para limpar as condutas de esgoto.
Constânça de Pina