A empresária adverte que há actividades económicas a ser exploradas por investidores de outras paragens, quando poderiam estar nas mãos dos filhos de Santo Antão.
Cursou Hotelaria e Turismo em Portugal e há cerca de oito anos cumpriu a promessa de regressar para trabalhar em Santo Antão, sua terra natal e uma ilha onde, na sua visão, há várias oportunidades de negócios. É desta forma que esta empreendedora encara a chamada ilha das montanhas, que tem estado a se destacar em Cabo Verde como destino do turismo de natureza.
Quando decidiu trocar a Europa por Santo Antão, Solene Silva, 41 anos, agiu com cautela com os familiares. Fingiu regressar de férias no mês de agosto, mas o seu plano era voltar a fixar residência na cidade do Porto Novo. “Evitei informar a minha família do meu verdadeiro plano porque certamente que alguém iria tentar minar o meu entusiasmo”, confessa esta “filha do Porto Novo”, como se refere à sua pessoa.
O tempo foi passando, o mês de agosto terminou e, para espanto dos familiares, Solene Silva continuava a “curtir as férias”, sem falar na sua viagem de retorno para Portugal. Inicialmente começaram a perguntar-lhe quando pretendia voltar, mas aos poucos o assunto foi morrendo, até tomarem a consciência de que, afinal, regressou para ficar.
Nos primeiros anos, Solene Silva trabalhou para empresas ligadas à hotelaria e para a Câmara do Porto Novo. Paralelamente foi prestando serviços que ainda eram escassos no mercado local. “Via que havia uma brecha no mercado, até que decidi abrir o meu próprio escritório em Funde de Lombe Bronc, aqui no Porto Novo”, conta Solene, que há dois anos abriu as portas da B. Simple, uma empresa de consultoria, auditoria, marketing, formação, gestão de páginas nas redes sociais e protocolo. Uma gama de serviços direcionados fundamentalmente para os sectores do turismo, hotelaria e restauração.
Apesar da extensa lista de oferta de serviços, Solene é a única funcionária fixa da B. Simple. Para dar resposta ao mercado, criou uma lista de prestadores de serviço, que acaba por envolver cerca de 10 pessoas. A lógica, diz, é proporcionar a partilha de rendimentos numa rede em que todos ganham o seu quinhão.
“Eu defendo o princípio da sustentabilidade, que aplico na minha vida pessoal e profissional. Aliás, o meu escritório é a minha cara”, diz a empresária, cujo atendimento é ornamentado com mobiliário construído com produtos naturais e reciclados, como bambu, madeira e tecidos descartados. Uma imagem simples, mas onde a natureza respira.
Para Solene, uma das melhores aplicações do conceito de sustentabilidade em Santo Antão passa pelo reaproveitamento de uma série de produtos ofertados pela rica natureza da ilha. Matéria-prima que, na sua perspectiva, pode alimentar vários tipos de negócio, desde que haja visão e iniciativa. Uma dessas matérias, diz, são as frutas, que muitas vezes são produzidas em abundância, como, por exemplo, a manga.
Segundo Solene Silva, a geração da sua avó soube explorar os diversos materiais e subprodutos resultantes da agricultura. Porém, sente que falta esta consciência e iniciativa na geração mais nova. A actual juventude, na sua perspectiva, não está a aproveitar a riqueza e oportunidades de negócio que Santo Antão propicia e nem se mostra disposta a apostar nas potencialidades da ilha.
Solene diz lamentar esta atitude porque há actividades económicas que estão a ser exploradas por investidores de outras paragens, quando poderiam estar nas mãos dos filhos de Santo Antão. Por outro lado, prossegue, as autoridades ainda não estão preparadas para apoiar os jovens dispostos a assumir desafios enquanto novos empreendedores. Acha, no entanto, que a situação pode ser solucionada, por exemplo, com aposta na formação.
“O caminho é longo, mas pode ser trilhado se trabalharmos em parceria. Precisamos incentivar as pessoas, mas ajudar quem acredita em Santo Antão”, salienta Solene Silva.
Santo Antão, nas palavras desta fonte, é realmente uma ilha majestosa, porém cheia de desafios. Enfatiza que muitos jovens têm um grande apego e orgulho de pertença, mas ao mesmo tempo não têm a coragem de regressar e dar o seu contributo para o desenvolvimento da ilha. O seu apelo vai particularmente para os filhos de Santo Antão que estão a estudar fora, para que coloquem os seus saberes à disposição da ilha.
Lembra que, quando chove e o som das cachoeiras invade as ribeiras, todos sentem um enorme orgulho em publicar fotos e vídeos nas redes sociais que revelam a beleza e riqueza da chamada ilha das montanhas…