A empresa Expoarte escolheu a ilha de S. Vicente, mercado onde nasceu, como palco principal de um vasto programa de celebração dos seus 25 anos de existência. Esta foi a forma encontrada pelo empresário mindelense Nelson “Netcha” Lopes para agradecer e compensar o lugar onde deu o primeiro passo de uma travessia atribulada, mas carimbada com sucesso empresarial.
Sob o lema “25 anos, 25 acções”, essa empresa de comunicação visual preparou uma série de eventos de carácter desportivo, social, educativo, ambiental e empresarial, que vai envolver também Santo Antão, uma das ilhas onde costumava ir vender os seus primeiros produtos, neste caso camisolas pintadas à mão com motivos culturais de Cabo Verde. Do programa, destaque para a vinda à cidade do Mindelo de uma delegação representativa de uma associação composta por 170 empresas de diversas áreas de negócio de Espanha, Portugal e Índia. A comitiva estará em Cabo Verde de 17 a 24 de Janeiro para estabelecer contactos com homólogas de S. Vicente e de Santo Antão e terá encontros com a Câmara do Comércio de Barlavento e as autarquias de S. Vicente, Porto Novo, Paul e Ribeira Grande.
No campo social, a Expoarte vai oferecer livros a escolas carenciadas, 1000 vestuários a instituições que lidam com pessoas pobres, promover ceias de Natal e brincadeiras nalgumas localidades de S. Vicente. Aliás, já amanhã a rua do campo de Bitim irá receber uma movimentação típica desta época natalícia, com jogos tradicionais e brincadeiras em insufláveis para crianças.
A nível desportivo, a empresa apostou em dois torneios de futsal, com 16 equipas, e de futebol de onze. No domínio ambiental, a aposta é na limpeza de uma praia de mar a ser ainda escolhida.
Regresso à origem
Outra novidade é a decisão do empresário Nelson Lopes de abrir uma delegação da Expoarte em S. Vicente, a partir do mês de Janeiro. Como avançou em conferência de imprensa, as máquinas já estão embaladas à espera apenas do transporte marítimo para S. Vicente. Para ele, este momento é um acto de enorme simbolismo. É que tudo começou na cidade do Mindelo quando tinha apenas 17 anos. Com essa idade, conta, decidiu que queria trabalhar, o que deixou o seu pai inconformado. Na altura estudava e queria aprender algo extra-curricular. “O meu pai ficou indignado e perguntou-me se por acaso estava a faltar-me roupa, comida e cama para dormir. Pela primeira vez pude encarar o meu pai e disse-lhe que tinha tudo, mas queria aprender algo mais. E a mensagem passou”, revela o empresário, que começou a trabalhar com um serigrafista que costumava pintar camisolas e quadros à mão. Ganhava mil escudos por mês, mas aprendeu uma profissão para o futuro.
Mais tarde iniciou a sua própria actividade e teve como companheiro nessa jornada nada menos que o seu próprio pai. Este decidiu pedir a reforma antecipada e tornar-se parceiro do filho. Na altura, prossegue Netcha, passava quase 22 horas para pintar 100 camisolas com motivos da cultura cabo-verdiana. Depois metia-se nos barcos, à boleia, para ir vender os seus produtos em Santo Antão, Sal, Boa Vista e Santiago. “Nem dinheiro de passagem tinha”, mas Netcha encontrou sempre pessoas dispostas a ajuda-lo. Uma delas foi a srª Norina, que lhe emprestou algumas máquinas de serigrafia que estavam paradas. Foi um passo que permitiu a esse jovem inovar e melhorar a qualidade do seu produto.
“Chegamos ao ponto em que recebia tanta encomenda da cidade da Praia que nem foi preciso fazer o estudo de viabilidade”, conta o empresário, que decidiu abrir uma delegação na Capital em 2001.
Inicialmente, as coisas foram complicadas, mas conseguiu adaptar-se ao mercado e trabalhar num apartamento alugado, onde também dormia. Três anos depois ousou e apresentou um projecto para financiamento bancário. Com o empréstimo comprou novas máquinas e passou para um espaço comercial amplo. Apenas dois anos depois, esse espaço tornou-se pequeno demais para o volume de trabalho. Assim, adquiriu uma garagem de 300 m2 passando a produzir em duas áreas.
No entanto, a sua sorte foi bruscamente interrompida quando um incêndio de grandes proporções deflagrou-se no seu estabelecimento. Em instantes, conta, sofreu um prejuízo de 25 mil contos em mercadorias destruídas. Apesar do baque, foi buscar forças, traçar um plano de recuperação e normalizar as coisas no espaço de seis meses.
Hoje, diz Nelson Lopes, a Expoarte continua a crescer. Emprega 35 pessoas e tem um prédio avaliado em 300 mil contos. E tudo isso começou há 25 anos em S. Vicente com a pintura à mão de camisolas. Por isso, Netcha faz questão de aconselhar os jovens a serem persistentes, a lutar até o fim com tenacidade.
Kim-Zé Brito