A treze dias do final do ano, o processo de retirada dos bares da Lajinha para a construção do hotel Four Points by Sheraton parece envolto ainda numa névoa de incertezas. Até este momento, nenhum dos proprietários dos sete espaços de divertimento nocturno instalados nessa área foram informados, com certeza absoluta, da data em que devem desocupar a área e para onde vão. Todos estão curiosos em relação a este ultimo ponto. É que há forte possibilidade de alguns dos estabelecimentos serem enquadrados no areal da praia da Lajinha, provavelmente nas proximidades do beach-bar Kalimba, na zona Sul. Mas ainda o projecto não foi divulgado e, conforme apurou este jornal, haverá um processo de escolha e negociação. Conforme fonte do Mindelinsite, houve proprietários que subalugaram os seus espaços sem autorização da Câmara de S. Vicente e poderão agora arcar com as consequências.
Segundo apurou o Mindelinsite, já aconteceu uma ou outra reunião com uma representante do Governo, mas que deixou muitas dúvidas no ar. Sem saberem ao certo o que dizer, alguns dos gestores evitaram dar a cara quando abordados pela nossa reportagem. Apenas sabem aquilo que corre aos sete ventos, isto é, que a Feira Internacional de Cabo Verde vai entregar os pavilhões até o final deste ano e que a construção do hotel deve arrancar logo em Janeiro. Aliás, no local já está um outdoor a anunciar a edificação do empreendimento na extensão que vai dos pavilhões da FIC à ex-Congel, onde estão os lavadores de carro. Logo, é certo que esse enorme edifício será construído, até porque já terminou o prazo do concurso público para a empreitada. Os resultados serão conhecidos em breve, como apurou este jornal online.
Por estes e outros factos, os donos dos bares e os trabalhadores sabem que estão na contagem regressiva. Tanto assim que já começou a haver despedimentos.
“Podem demolir o Ote Level“
Um dos espaços que já começou a rescindir contrato com os trabalhadores é o bar-restaurante “Ote Level”. Segundo o proprietário Raul Gulau, os trabalhadores cujos contratos terminaram já foram dispensados e isso vai acontecer com outros. “Comecei a trabalhar com vinte trabalhadores, agora são muito menos. E vou continuar a despedir”, assegura Gulau, que confessa estar a leste daquilo que irá acontecer com o seu estabelecimento e os dos colegas.
Apesar de estar ciente que cedo ou tarde o hotel vai reclamar todo esse terreno, esse empresário mostra-se estar “relax”, despreocupado com a possibilidade de perder os 40 mil contos que já investiu no Ote Level. “Podem demolir e destruir tudo o que está lá dentro. De qualquer modo não tenho onde guardar todo o equipamento e materiais e não dependo do bar para viver. Se desaparecer passo a ganhar menos, mas aumento a minha qualidade de vida, com menos preocupação”, frisa esse investidor cabo-verdiano, que não se mostra interessado em alugar um armazém e pagar 50 contos mensais só para guardar o recheio de Ote Level.
Gulau não tem pressa e nem data certa para sair da Lajinha. Assegurou ao Mindelinsite que vai trabalhar até o último dia, sem saber ao certo quando será. Aliás, esse dia, diz, é quando chegar e encontrar a área vedada pelas cercas e as máquinas prontas a entrar em acção.
Por esta altura do campeonato, Gulau já esperava saber alguns detalhes do processo, mais concretamente se vai reinstalar o Ote Level na areia, quem vai arcar com os custos da transladação e se será indemnizado pelos prejuízos causados com a interrupção da sua actividade comercial. Este assegura que foi abordado há cerca de sete meses e lhe prometeram uma área para recolocar o seu bar na praia da Lajinha, mais precisamente entre a Electra e a esplanada Caravela, isto é muito próximo do túnel de escoamento das águas pluviais. “Mostraram-me o local e aceitei porque prometeram ver como enquadrar o meu estabelecimento por causa desse escoamento da água. Ainda aguardo o resultado das reuniões técnicas que ficaram de fazer”, revela Gulau, para quem há espaço suficiente na praia para receber os bares.
Só que, para ele, o processo de transferência dos bares não está a ser transparente para os proprietário e tão pouco para a Feira Internacional de Cabo Verde. “Posso garantir a quem quiser que este é um pretexto para acabarem com a feira em S. Vicente. Daqui a dois anos vamos ouvir dizer que haverá a primeira edição no Sal ou em Santo Antão porque não há pavilhões adequados em S. Vicente. E vamos esperar uma eternidade para voltarmos a ter o que é nosso de direito”, desabafa esse mindelense, que perspectiva momentos complicados para S. Vicente com o desaparecimento dos sete espaços comerciais da Lajinha. É que, segundo Gulau, essa é a zona que mais movimento nocturno e consumo vem registando na cidade do Mindelo nos últimos anos.
Na verdade, a zona aliou a localização da praia e a música ao vivo dos bares para se transformar num novo polo de movimento na cidade do Mindelo. Porém, conforme o espanhol António Montedioga e o cabo-verdiano Tomás Delgado, a procura acontece apenas aos fins-de-semana e por certas alturas do ano, em particular no verão.
Sair ou continuar
Por estes dias, salienta Montedioga, o negócio decaiu. Para ele, falta dinheiro para determinados gastos. E a acrescentar a esse cenário, aponta que não sabe qual será o futuro do Bar Laginha, que gere desde 2013. Segundo este espanhol, até hoje ninguém lhe disse claramente o que será feito. Ouviu dizer que alguns espaços podem ser transferidos para o areal da Lajinha e faz figas para que seja contemplado. “Se formos instalados na praia podemos trabalhar melhor, porque aqui limitamo-nos a abrir no período da tarde. Sem movimento não vale a pena gastar energia e cansar os funcionários”, salienta Montedioga.
Quem também não sabe o que o futuro lhe reserva é o cabo-verdiano Tomás Delgado, gestor do bar Surf. Este sabe que será obrigado a sair do local onde funciona há dez anos. Neste momento está apenas à espera para saber quando e se irá para a praia da Lalinha, o que, no seu caso, seria ouro sobre o azul do mar.
Faz algum tempo que o Mindelinsite vem tentando obter dados sobre a retirada dos bares da Lajinha. Mas, apesar dos contactos, foi impossível obter quaisquer informações da parte da Câmara de S. Vicente e o Governo.
Kim-Zé Brito