Colheita no Planalto Leste comprometida, alerta Zuza: “Os antigos já diziam que chuva em excesso não é bonança”

“Os antigos já diziam que chuva em excesso não é bonança. E pude viver para constatar esta verdade”. Este é um lamento da agricultora Josefa “Zuza” Delgado, 56 anos, que testemunhou os danos causados na sua plantação pela chuva do mês de agosto, na ilha de Santo Antão.

Feitas as contas, estima que poderá aproveitar à volta de 10 por cento do cultivo, se tanto. Para comprovar a máxima de que uma desgraça nunca vem só, a agricultura em Planalto Leste está a ser fustigada por pragas e doenças. Quando não são as lagartas, diz, é a doença da ferrugem. “E agora chegou a neblina, que afecta as folhas”, acrescenta a Presidente da AMUPAL (Associação das Mulheres do Planalto Leste).

Se as contas tivessem batido certo, os agricultores do Planalto Leste estariam a preparar a colheita, mas o excesso de água em agosto, seguido de tempo seco em outubro, mais as pragas, deitaram quase tudo ladeira a baixo. Para Zuza, este cenário comprova que Cabo Verde está a sentir o peso das mudanças climáticas. “A ilha de S. Vicente viveu uma situação que só tinha visto em imagens na televisão. Pensávamos que isto só acontecia noutros países, mas estávamos enganados”, comenta esta mulher de 56 anos, para quem a tempestade Erin veio despertar o país para uma nova realidade e ameaça.

Em Santo Antão, segundo Zuza, choveu bastante no dia 11 de agosto e a água continuou a cair nas semanas seguintes, mas com menos intensidade. No entanto, toda essa precipitação provocou uma forte erosão dos terrenos, cujas terras foram levadas pelas enxurradas para o mar. “Se esta quantidade de água tivesse caído aos poucos o cenário seria diferente. Da forma como aconteceu o solo não conseguiu aproveitar nada”, frisa esta experiente agricultora de Santo Antão.

Devido ao excesso de água, prossegue, algumas plantas cresceram rapidamente, mas produziram pouco, como são os casos do milho, feijão e batata. Para piorar, a pouca produção foi atacada por pragas. “É como se tivesse chegado uma praga específica para cada planta!”

Os produtos colhidos da terra servem basicamente para alimentar as famílias proprietárias dos terrenos e os animais. Isto porque, explica Zuza, as batatas e as couves, por exemplo, apresentam furos provocados pelas pragas e normalmente não são compradas pelos clientes devido a aparência. Sobre este aspecto, a agricultora explica que os “ataques” das lagartas comprovam que são hortícolas totalmente naturais, sem a presença de venenos.

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