Os cabo-verdianos estão revoltados com os preços exorbitantes das passagens praticados pela companhia aérea portuguesa, que acusam de exploração e abuso de poder. Para muitos, era impensável voltar a esta situação de monopólio e dependência, com todos os constrangimentos que isto acarreta para a população, 46 anos depois da independência do país.
Há vários dias que as redes sociais vêm sendo inundadas de críticas por causa dos preços exagerados das passagens aéreas entre Cabo Verde e Portugal, especialmente em época baixa. A contestação é ainda mais forte porque estes aumentos ocorrem numa altura em que muitos estudantes se preparavam para viajar para Portugal, para prosseguirem os seus estudos. E a situação é ainda mais crítica a partir do AICE em S. Vicente, sem qualquer justificação.
Em uma das publicações, o antigo gestor da TACV Gil Évora questiona o facto de a nação estar a assistir impávida e serena ao acentuar de uma posição de abuso dominante por parte da transportadora aérea portuguesa pública que, por força das circunstâncias do mercado, quer recuperar as receitas perdidas durante a pandemia em Cabo Verde.
“A TAP consegue meter a mão no bolso dos cabo-verdianos três vezes em uma única viagem. Explora-nos porque subiu as tarifas em 100% de maio para junho de 2021, assim que soube que a nossa CVA afinal não iria levantar voo. Tarifas – ida e volta – para o verão, e que estavam por 500 e 600 euros, automaticamente passaram a estar disponíveis por 1200 e mesmo 1400 euros”, relata este gestor, para quem é mais barato nesta altura viajar para Luanda, uma distância de 7 a 8 horas de voo, do que vir para C. Verde.
A situação é ainda mais caricata, prossegue Évora, porque as refeições foram suspensas durante as viagens em tempos de pandemia, mas regressaram agora com uma “ligeira” diferença: agora, para o passageiro ter uma refeição a bordo, tem de pagar e somente com cartão de crédito. “Quem não tem cartão de crédito tem de levar a sua marmita ou então faz um jejum de 4 horas de voo, mais as 2 horas que tem de estar no aeroporto! E como não há duas sem três, ao fazer o ‘check-in’ online, qualquer alteração de lugar o passageiro é obrigado a pagar 30 euros. Ao entrar no avião deparamo-nos com vários lugares disponíveis que não deveria permitir a alteração custo.”
Face a esta situação, Gil Évora apela à intervenção de alguém de direito ao mais alto nível para que haja uma resposta adequada. Aproveita para lembrar que apenas três pessoas podem mudar esta situação, no caso o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro-ministro António Costa ou o Ministro dos Transportes, Pedro Nuno Santos.
Esta publicação feita em jeito de desabafo por Gil Évora, que se encontra na Guiné Equatorial, despoletou um rol de críticas contundentes. Todos concordam que a situação é criticável a todos os níveis, mas, para uns, estes preços são os custos de o governo do MpD ter acabado com a TACV. Outros mais pragmáticos consideram que é o neoliberalismo e a economia de mercado a ditar as regras, lembrando que a TAP não tem concorrência.
“Com tantas más bocas que dispararam contra aquilo que é nosso, no passado, sem dó nem piedade, é nisso que dá, meu caro Gil Évora. Infelizmente não soubemos defender o que é nosso. Povão e povinho mandava bocas e mais bocas, contra o que é nosso e não tivemos chances! Agora já estão a ver o quão importante éramos. Tardiamente!”, acusa um ex-funcionário da companhia aérea cabo-verdiana de bandeira.
O Mindelinsite tentou ouvir uma reação da representação da TAP na ilha do Sal em Cabo Verde, mas foi direcionado para Dacar, Senegal, país onde actualmente reside o delegado Nelson Silva, ou então para o serviço comercial da companhia em Portugal, pelo que prometemos voltar ao assunto logo que houver algum feedback. Enquanto isso, os cabo-verdianos vão continuar a pagar balúrdios para viajar para Portugal e, como diz o outro, ainda levantar as mãos para agradecer “este roubo” porque se não fosse a TAP estaríamos presos nestas dez ilhas.