O artista boavistense Tiolino, nascido na pequena localidade de João Galeto e residente no Sal, apresentou esta quarta-feira em São Vicente o seu segundo álbum “100% Cabrer”, um trabalho que considera ser uma playlist preparada meticulosamente por Bau para deleito das pessoas. O CD é composto por 13 temas, todas da sua autoria, dos mais diferentes estilos, desde morna, coladeira, reggae, landum e mazurca, com as raízes fincadas na Boa Vista e afirma ser uma obra discográfica de valorização e preservação da identidade cultural de Cabo Verde.
Adelino Baptista de Livramento, do seu nome próprio, cimenta com este seu segundo trabalho discográfico, sobretudo com o tema “Lop Lop”, a sua arte de criar imagens musicais sobre as vivências de Boa Vista e de Cabo Verde, com um humor acutilante que lhe é próprio. “Colocar um CD na rua é como ter um filho. Dezassete anos é muito tempo e, posso dizer, sequer consegui dormir devido a ansiedade de ver este álbum pronto e a chegar às pessoas. Estou muito contente porque não é fácil”, explicou, lembrando que, no seu caso, os trabalhos começaram antes da pandemia da Covid.
Na linha do seu trabalho anterior, com “100% Cabrer” Tiolino diz esperar que venha a enriquecer o panorama musical. “Tanto este como o anterior CD têm uma particularidade na data de saída. O primeiro foi no dia 2 de maio de 2007, Dia da Mãe, e este 27 de março, Dia da Mulher Cabo-verdiana. Ambos estão ligados à mulher e espero que seja abençoado”, frisa, destacando a forte presença feminina neste álbum, que tem 13 faixas, dos quais cinco evocam a mulher. “O tema Mãe Velha é uma homenagem à mulher-mãe, sobretudo a do mundo mais rural. Mas também a atual, da urbe.”
Os temas “Pa arbera” e “Lutxinha” são uma viagem ao passado recente de Cabo Verde, descreve Tiolino, esclarecendo que a ida a ribeira era para lavar as roupas, numa altura em que ter água canalizada em casa era um luxo. “Era uma oportunidade dos rapazes irem assistir e conviver mais ou menos de perto com as meninas, sobretudo aqueles que gostavam. Enquanto que ‘Lutxinha’ relata o processo de cuchir o milho para preparar a cachupa para levar no dia seguinte para a faina”, descreve.
“Lop Lop” conta a história de “Ti Xica e Ti Jon”, testemunhada por um outro casal. A estes juntam “Stanigora”, “Txuba”, “Noz Alma”, “Ás avessas” “10 Pontinhos”, “Nha minineza” e “Homem Cabrer”. Esta última uma morna que, afirma, é um grito de revolta sobre a forma como a sua ilha natal, está a ser tratada, apesar da sua importância para o país. “As pessoas dizem que Boa Vista é a galinha de ovos de ouro, mas a minha música diz claramente que os seus filhos não querem apenas a piedade. Querem um bocadinho de gemada também, já que contribui e de que maneira para o PIB de Cabo Verde.”
O CD foi gravado no LeStudio Mindelo e no Estúdio Namouche em Lisboa, foi masterizado no Jraphing em Paris e conta com a chancela da Boa Música. Na ficha técnica estão ainda Ivan Moreira, Khaly Silva, Tey Santos, Rossini Santos, Totchi Almeida, Sivy Gomes e Hernany Almeida. O seu caminho começou a ser percorrido hoje, abençoado pelo sobrinho, o Bispo Dom Ildo do Mindelo. Em breve vai estar em todas as plataformas digitais e, a nível de espectáculos, para o mês de maio estão agendados shows um primeiro na ilha do Sal, seguido de S. Vicente e Santo Antão. Posteriormente, cidade da Praia, Boa Vista – Sal-Rei e João Galego – e São Nicolau, precisamente no Tarrafal e Ribeira Brava.
No ato de lançamento do CD foi ainda apresentado o videoclipe do tema “Lop Lop”.