Viviane Rodrigues é um dos rostos por detrás da exposição “As Sombras da Crise”, patente na Escola Salesiana de Artes e Ofícios, em que os alunos do 8º ano trabalham as expressões e objectos ligados à pandemia da Covid-19 que afecta Cabo Verde e o mundo, conferindo uma maior leveza a esta doença. Este projecto faz parte da tese de mestrado desta docente de Educação Artística, cujo principal objectivo, diz Viviane, é mudar a forma como os cabo-verdianos ainda olham para a arte não como uma profissão como qualquer outra, mas sim como brincadeira, um passatempo ou hobbie.
Em um exclusivo ao Mindelinsite, esta docente de Educação Artística conta que a exposição de fotografias faz parte de um projecto interventivo fora de aula da disciplina “Prática Formativa”, que deveria apresentar no próximo dia 12 de junho na Universidade de Viana do Castelo, junto com os demais colegas mestrandos. “Eu queria trabalhar um tema actual e, como o coronavírus é o assunto do momento e vi que os alunos e as pessoas em geral estão saturados, optamos por escolher a Covid-19. Decidimos trabalhar a pandemia na fotografia, mas mostrar um outro olhar, mais leve.”
No fundo, o que pretendia era mostrar a arte da fotografia como uma ferramenta de comunicação. E chegou-se a exposição. “Foi um projecto que iniciamos em dezembro passado, no meu primeiro ano de mestrado. Infelizmente, por falta de visto, não vou poder levar para Portugal. Então vou ter de criar estratégias junto com os professores e, possivelmente, fazer uma apresentação nos Salesianos ou no Centro Cultural do Mindelo”, frisa.
O seu público-alvo, explica, são os alunos, que vivem esta pandemia intensamente, com medo e muitos vezes isolados. “Acredito que tudo tem um lado positivo, inclusive a Covid-19. Neste caso em concreto, trabalhamos a parte natureza mostrando como o planeta beneficiou da pandemia. Também mostramos como esta doença permitiu uma maior aproximação das famílias, apesar de toda a pressão para ficar em casa. Todos conhecemos os aspectos negativos, mas, no meu caso, fixo nos positivos”, indica Viviane Rodrigues, que durante os meses de trabalhou mudou o olhar dos alunos.
Hoje, afirma, estão conscientes de que o vírus veio para ficar e têm de viver com a doença, sem estresse e sem pânico. “O meu objectivo ao conversar com meus alunos era para aprenderem a encarar a doença com naturalidade. Ou seja, temos de estar preparados para quando a Covid-19 chegar. Neste sentido, estão a encarar esta pandemia com mais leveza e menos pressão”, declara Viviane, que espera agora expandir esta experiência para a arte, mais precisamente, mudar a forma como os cabo-verdianos encaram esta profissão. No caso, conferir mais seriedade e menos diversão.
“Sinto que a arte em geral ainda é uma área pouco valorizada em Cabo Verde. Sou professora de Educação Artística e sinto que os meus alunos sobrepõem todas as demais disciplinas a minha, inclusive agora por altura do PGI pediam para reduzir as matérias para poderem estudar para os testes. É algo que trazem de casa. Quero começar a mudar esta visão de dentro para fora. Mostrar sim que a arte é importante e precisa ser valorizada”, assevera.
Viviane Rodrigues acredita que, para isso, é preciso mostrar ao público o resultado, como aconteceu agora com “As Sombras da Crise”. “Quero mostrar que a arte produz conteúdos interessantes. Em Cabo Verde, tirando os músicos, ainda não se valoriza os artistas. Estes dificilmente conseguem viver da sua arte. Acabam por transformar a sua arte em um hobbie e procuram um outro trabalho para garantir o seu sustento. Vejo que nos outros países os actores, atrizes, pintores, escultores vivem da sua profissão. Quero mudar isso.”
Optimista, para além deste projecto, a professora diz ter uma série de ideias, sendo uma delas criação um grupo de reflexão para tentar mudar a mentalidade das pessoas e buscar mais oportunidades para a área artística