A equipa de produção da série televisiva Mindelo City está em S. Vicente desde o dia 11 a palmilhar terreno e a preparar os cenários para o arranque das gravações já no próximo mês de dezembro. Ontem à noite, numa ação de marketing, a mesma foi apresentada num evento realizado no estúdio flutuante Mansa Floating, na Avenida Marginal, marcado pela presença da actriz e produtora norte-americana Lynn Whitfield, vencedora de um prémio Emmy em 1991 pela sua performance no drama The Josephine Baker Story.
A presença desses convidados foi graças ao empenho do empresário maliano Samba Bathily, que decidiu apostar na produção dessa telenovela para promover Mindelo como destino turístico e debelar a imagem negativa que normalmente o continente africado tem em várias paragens.
Segundo o produtor cinematográfico Alexandre Rideau, presidente do grupo Mediawan, várias cidades espalhadas pelo mundo ficaram a ser conhecidas como palcos de filmes e novelas – como Rio de Janeiro, Shangai, etc. – e agora chegou a vez de Mindelo entrar nessa dinâmica. “Hoje queremos promover Mindelo através desta série que é uma produção africana destinada ao público internacional”, realçou. Segundo Rideau, a intenção da sua equipa, que tem experiência em trabalhar na Europa e no Senegal, é fazer de Mindelo um hub onde é possível a produção de conteúdos televisivos e cinematográficos e atrair investimentos. E, para isso, enfatiza, tiveram que contar com uma “bonita e fantástica” história na produção dessa telenovela escrita por Roxanne Dogan.
Mindelo, a versão africana do sonho americano
Na novela, Mindelo é apresentada como a versão africana do sonho americano através da história de um amor proibido entre Enéwa, uma brilhante mulher de origem nigeriana e cabo-verdiana, e o seu rico amante marfinense. Ambos estão dispostos a realizar o seu sonho na ilha de S. Vicente.
De origem pobre, Enéwa ganha uma bolsa de estudo para a universidade de Harvard, onde faz o seu doutoramento como neuro-cirurgiã. Foi nessa prestigiada escola que conheceu e se apaixonou por Samory, jovem marfinense rico. Após a formação de ambos, o casal decide mudar-se para Mindelo, onde Enéwa é contratada para trabalhar num pequeno hospital.
A vinda da jovem para S. Vicente não é, no entanto, inocente. Ela é filha de um pai cabo-verdiano que nunca conheceu e que ainda está vivo. Uma vez na cidade do Mindelo ocorre uma série de acontecimentos que vão afectar a vida de Enéwa a nível profissional e emocional.
O elenco deste drama é composto por actores de várias nacionalidades, mas de primeira categoria, conforme Samba Bathily. Este empresário está a apostar no impacto que essa produção vai ter na mudança da percepção que o mundo tem do continente africano, a partir da cidade do Mindelo. A seu ver, um dos principais problemas da África reside na forma como o continente é visto, inclusive pelos próprios filhos. Deixa como exemplo o facto de os africanos estarem mais dispostos a gastar o seu dinheiro na Europa, América ou Dubai, descurando o seu próprio continente.
O maliano traz como exemplo a própria filha. Conta que todos os anos costuma passar férias com a família num destino e a filha tem sempre a tendência de escolher lugares como Dubai, Disneyland, etc. Até que resolveu ser ele a escolher e a surpreender a filha. Apesar da curiosidade da menina, guardou secreto até desembarcarem no Senegal, terra que ela já conhecia. Mas não sabia que o destino era Saly, uma área de resort situada à beira-mar na região de Thiés, ao sul de Dacar. Chegados ali, alugaram um barco e, segundo Bathily, a filha viveu momentos incríveis que possivelmente não iria disfrutar nos lugares que tinha em mente.
Mindelo é visto por Samba Bathily como um desses sítios mágicos que podem mudar a percepção negativa sobre a África. Conta que sentiu algo diferente nesta cidade desde o primeiro instante em que pisou a sua terra. Tanto assim que decidiu logo comprar uma casa para ficar a passar férias.
Depois decidiu investir com o intuito de transformar a urbe num grande destino turístico e cultural. E, para ele, se há algo capaz de publicitar um destino no mundo é o poder da media. Daí surgir a ideia de apostar na produção dessa série e levar a imagem de Cabo Verde a “todas as famílias africanas” e ao resto do mundo através dos canais televisivos.