O Centro Cultural Português abre os palcos hoje para dar estampa ao terceiro livro do poeta cabo-verdiano Alexandrino Dias. O conteúdo de “Canção de saudade nas pautas da utopia”, uma colectânea de 75 poemas inéditos saídos da inspiração quotidiana do autor, será desvendado ao público pelas 18.30 pelo também escritor mindelense Carlos Araújo. Mas, para os ansiosos, fica a dica que a obra está dividida em três cadernos recheados de textos que abordam o amor – que vão do sentimento humano à exaltação – e patenteiam diferentes sentidos da poesia.
“Nesta terceira produção da sua obra poética, Alexandrino Dias preserva o selo da sua escrita elegante e refinada, surpreendendo-nos com novos relatos de bela poesia…; sobressaem belas imagens plasmadas em frases tecidas na mente e rematadas no peito, ali onde habita a perene saudade, que sendo pretérita, é pautada por utopias em que o autor nos vai mergulhando e de onde fez emergir, uma e outra vez…”, escreve o sociólogo e poeta Jacinto Estrela no prefácio.
Depois de lançar “Noites em resquícios de luz e “Doce mar e azul a girassol”, esse ex-militar de carreira aventura-se por mais uma obra literária, igualmente dedicada à poesia, seu porto seguro. “Quando escrevemos é difícil pararmos. Aparece sempre algo. Além disso, restaram alguns poemas do livro anterior, pelo que escrevi outros tantos e, após atingir 80 textos, decidi escolher 75 para constar desta nova publicação”, responde o escritor quando questionado sobre o motivo desta nova publicação. Ele que acaba por fazer uma confidência, ao explicar como começou a passar para o papel os seus sentimentos e momentos de inspiração poética. Como conta, estava na quarta classe quando começou a sentir algo por uma colega que vivia no Tarrafal de Povoação, em Santo Antão.
“Como tinha muitas dificuldades em falar com ela por causa do seu irmão, que era um grande amigo meu, comecei a escrever-lhe bilhetes poéticos. Era a melhor forma de ‘falar’ com ela. A partir daí nasceu essa relação com a poesia, que me acompanhou até hoje”, explica o ex-comandante da Polícia Marítima, que pretende um dia escrever um livro sobre a sua vida e a sua passagem pelas fileiras das Forças Armadas. Enquanto não chega esse dia, vai, no entanto, explanando as suas ideias através da técnica que mais adora: a poesia.
“Canção de saudade nas pautas da utopia”, ao contrários dos dois “irmãos mais velhos”, traz poemas mais curtos para ajudar na leitura. Isto porque, como confessa o autor, alguns leitores e amigos dos trabalhos anteriores queixaram-se do tamanho dos poemas, pelo que resolveu encurtar os escritos e transformar algumas quadras em quintilhas. “Tudo isso para satisfazer o pedido dos meus amigos.”
Apesar do pouco hábito de leitura dos cabo-verdianos, os livros de Alexandrino Dias têm tido uma procura que satisfaz o escritor. Pelas informações que dispõe, os dois trabalhos anteriores têm estado a sair das prateleiras em Cabo Verde e Portugal. A sua expectativa é que a tendência venha a melhorar com este seu último lançamento, que tem uma tiragem de 500 exemplares.
Kim-Zé Brito