O pianista cabo-verdiano Chico Serra foi aplaudido de pé ontem à noite na Pracinha d’Liceu Bedje, na Cidade do Mindelo, enquanto homenageado da 12 edição do Mindel Summer Jazz. Momentos antes, Chico fez duo com o também pianista cabo-verdiano Carlos Matos, com os dois interpretando uma coladeira a quatro mãos no mesmo instrumento. O ponto alto aconteceu, no entanto, com a passagem de um vídeo que retrata a rica carreira artística deste exímio intérprete da música das ilhas que, aos 77 anos de idade, continua a tocar.
“Estou muito grato com este gesto, que representa um reconhecimento pela minha trajectória artística. Mas queria tocar algumas músicas com uma banda suporte”, lamentou o músico, que iniciou o contacto com um piano aos 4 anos. Cerca de 74 anos depois continua a alimentar um elo permanente com esse instrumento musical. “Vou tocar até o dia que Deus quiser. Nunca irei abandonar o piano. Toco todos os dias porque a música é a minha terapia”, responde Chico quando questionado sobre o fim da sua carreira, ele que já tocou com o grupo Voz de Cabo Verde e acompanhou Cesária Évora, a diva da Morna.
Confrontado com esse desabafo do instrumentista, Xazé Novais responde com um sorriso de admiração para com Chico Serra, um músico que, aos 77 anos, continua a alimentar uma intensa paixão pelo palco, qual um jovem. “É incrível como Chico, com quase 80 anos, continua com essa forte vontade de estar no palco. Ele tem estado a reclamar, mas eu disse-lhe que este é o seu momento, um momento que deve apreciar sem essa obrigação de estar a ensaiar e a actuar. Mas, na verdade, ele quer tocar e expressa essa vontade no vídeo promocional que realizamos”, comenta Xazé Novais, um dos organizadores do evento.
Abordado pela imprensa, este arquitecto de profissão exprimiu a sua “imensa satisfação” por ver o arranque do festival na Pracinha d´Liceu Bedje perante uma plateia composta. Segundo Xazé, organizar um evento dessa envergadura implica meses de contactos, de negociação com os managers dos músicos e com os patrocinadores, além da logística do palco e iluminação. “Tudo isso ultrapassa aquilo que as pessoas vêm, que são os músicos no palco ou nos eventos, como, por exemplo, o master class”, comenta Xazé. Ele que fez questão de enaltecer o alcance para o MSJ da presença de grandes nomes mundiais do jazz na Cidade do Mindelo. “Quando dizemos que Mindelo é a capital cultural de Cabo Verde isto não pode ser uma frase vã. Implica que a ambição das pessoas e das instituições deve estar à altura”, frisa o empresário.
A noite da homenagem foi aberta por um trio liderado pelo pianista cabo-verdiano Carlos Matos, um grande apreciador de Chico Serra. Reconhece que tocar com o seu ídolo foi realizar um sonho. “Chico é como um pai para mim. Ele inspirou-me desde criança e ele merece muitas mais homenagens”, enalteceu o pianista, que fez este ano a sua estreia no MSJ. Ele que se mostrou impressionado com a qualidade do evento.
O cartaz de ontem foi completo com a actuação do quarteto Pret & Bronk feat Silvia Medina e do pianista cubano Roberto Fonseca. Para hoje, sexta-feira, estão previstos atuações de Kavita Shah (EUA/Cabo Verde), Jacky Terrason (França/Alemanha) e Jowee Bash Omicil (Haiti/Canadá).