Pesquisador Alcides Lopes vai apresentar trabalho científico sobre a cultura cabo-verdiana em evento mundial e assumir postura “revolucionária”

O pesquisador cabo-verdiano Alcides Lopes vai participar em quatro eventos culturais internacionais a partir do mês de maio, sendo o mais importante, na sua perspectiva, o Congresso Mundial de Etnomusicologia de Música Tradicional (ICTM), que acontece em Lisboa de 21 a 27 de julho. O etnomusicólogo justifica que será o primeiro intelectual cabo-verdiano a apresentar um trabalho científico nesse evento sobre a cultura enquanto nativo do arquipélago, quando isso tem estado a acontecer através de especialistas estrangeiros, que estudam manifestações e a música nacional.

“A nossa música tem sido pesquisada por estudiosos estrangeiros, nomeadamente trabalhos sobre o San Jôn. Serei o primeiro intelectual cabo-verdiano a intervir nessa instância, ou seja, será um nativo cabo-verdiano a falar daquilo que é nosso, e não uma abordagem feita por um especialista estrangeiro”, enfatiza Lopes, que espera conhecer e falar com outros estudiosos, cujas lutas, diz, não são políticas, mas sim educacionais.

Tchida Afrikanu, como é conhecido, assegura que o seu ponto de vista nesse evento ligado à Unesco será de resistência, revolucionária e de desobediência epistémica para trazer novos argumentos sobre a leitura da história de Cabo verde e a formação identitária do povo. Ele que diz discordar de muitas afirmações feitas em Cabo Verde, “transvestidas de intelectualidade”, quando o país precisa, na sua óptica, promover debates sérios e plurais sobre a cultura. Aliás, mostra-se bastante crítico sobre a forma “ligeira” como o próprio dia da cultura cabo-verdiana tem sido celebrado.  

Em relação aos outros eventos, este músico será um dos oradores no congresso internacional Festas, Culturas e Comunidades, organizado pela Universidade do Minho, que decorre de 4 a 6 de maio. A sua intervenção será via internet, a partir do Brasil, e vai incidir sobre a ractificação tardia da convenção para a salvaguarda do Kolá San Jôn e da Tabanka.

Ainda no dia 14 de maio, Lopes irá participar num webinário promovido pelo Instituto Pedro Pires sobre etnomusicologia e ecologia, em parceria com um pesquisador japonês da música cabo-verdiana, um norte-americano estudioso da música brasileira e da seca e uma musicista brasileira que estuda a mulher negra latina.

Cinco dias depois arranca outro webinário na Universidade de Leiden, na Holanda, durante o qual irá fazer uma abordagem social das noites musicais dos emigrantes em Lisboa, com base num trabalho de campo que fez no bar Tejo.

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