Os mindelenses “lotaram” ontem à noite a Praça Nova para apreciar um concerto com a orquestra que acompanhou Cesária Évora pelos palcos do mundo e que visou assinalar os dez anos do falecimento na cidade do Mindelo da famosa artista cabo-verdiana. O entrosamento do público com os artistas que interpretaram os diversos sucessos gravados por Cise “injectou” um calor humano agradável ao espectáculo, o que foi enaltecido pelo empresário e produtor Djô da Silva.
“O sentimento que me invade neste momento é o de dever cumprido. Realizar este concerto pelo décimo ano do falecimento da Cise foi uma missão que coloquei à minha pessoa. Foi emocionante ver e sentir a presença do povo de S. Vicente e estou certo que a Cise gostou, esteja ela onde estiver”, comentou Djô da Silva assim que terminou o show.
Segundo este produtor musical, para trazer a orquestra e esse leque de intérpretes – compostos por Nancy Vieira, Élida Almeida, Lucibela, Tito Paris, Teófilo Chantre, que se juntaram ao pianista Chico Serra, ao guitarrista Bau e às cantoras Ceuzany e Jennifer – foi um trabalho árduo, concretizado graças ao suporte do Governo de Cabo Verde, as Câmaras de S. Vicente e de Lisboa e empresas.
Essas vozes foram acompanhadas por uma banda dirigida pelo pianista mindelense Humberto Ramos, composta por músicos residentes e vindos da América Latina, Cuba, França e Estados Unidos da América. O show, que durou cerca de duas horas, foi antes apresentado em Portugal, França e Polónia e a intenção de Djô da Silva é leva-lo agora para os Estados Unidos.
Coube ao pianista Chico Serra abrir a noite dedicada à memória de Cesária Évora. Embora tenha sentido que o som do piano não estava do seu agrado, Chico Serra elogiou a organização. “Vim tocar pela alma da Cise, que cantou comigo durante muito tempo no Piano Bar. Temos uma estória bonita, mas que ninguém fala. Eu é que comecei a tocar com Cise nos anos 90, mas não pude dar muito mais devido ao meu trabalho. Depois de 95, quando Paulino Vieira saiu, Djo da Silva telefonou-me e por duas vezes pedi licença sem vencimento por 6 meses para poder acompanhar Cesária e dar o meu contributo para a nossa música”, comentou o artista após a sua actuação.
Exceptuando-se esta parte instrumental, as performances seguintes foram assumidas pelas vozes de um leque de artistas de renome na música cabo-verdiana e que, na sua maioria, partilharam o palco com a chamada diva dos pés descalços. No entanto, Élida Almeida foi das poucas artistas presentes que não teve essa sorte. Mesmo assim, a jovem cantora sentiu-se privilegiada por estar incluída nesse concerto.
“Já apresentamos este espectáculo noutras paragens, mas teve um carisma e uma energia diferente em S. Vicente, terra da Cesária Évora. Mindelo costuma receber Élida Almeida a solo com um calor humano de outro mundo, mas desta vez senti isso duas vezes mais intenso”, salientou a intérprete, que, diz, tem aprendido muito com os músicos que integram a orquestra que trabalhou com Cise.
A cantora Nancy Vieira saiu do palco com um sentimento de reconforto e aconchego. Para ela, cantar no Mindelo, a terra-amada de Cesária Évora, teve um sabor ideal. “S. Vicente soube corresponder e interagir com os artistas. O público animou, bateu palmas, cantou, dançou e principalmente vibrou com a Morna. Isto só em S. Vicente mesmo”, disse Nancy.
Apesar desse momento único, houve quem tenha criticado o posicionamento do palco e a própria escolha da Praça Nova para o concerto. “O espectáculo foi memorável, mas pergunto se o local ideal não seria a praceta Dom Luis, onde está a imagem da Cise gravada numa grande parede, que poderia até servir para compor o palco”, comenta Joana Sousa. Para ela, a localização do palco, que ficou em frente à Igreja Adventista e direcionado para o centro da Praça Nova – terá dificultado a presença das pessoas.
Confrontado com esse reparo, Djô da Silva explica que o seu objectivo foi criar um ambiente humano caloroso. A seu ver, a praceta Dom Luis, por ser um espaço mais amplo, não iria provocar esse efeito.