Os mindelenses foram testemunhar na noite de ontem na Praça Amilcar Cabral o arranque da 7ª edição da URDI – Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde, sob o signo “Tradição Oral – Cultura Imaterial”, que este ano tem como pano de fundo o novo edifício do Centro Nacional de Artes e Design. Durante cinco dias, artesãos, designers, artistas, criativos e o público em geral são convidados a visitar, vivenciar, refletir e projectar a criação artista destas ilhas nesta feira.
No seu discurso de abertura, o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, focou-se exatamente nesta nova centralidade para a cultura e para as indústrias criativas de S. Vicente, o CNAD, que, afirmou, nasceu de uma promessa utópica para popularizar a cultura e a arte. “Na política como no trabalho executivo não se vai contar os sonhos e os caminhos que são mais ou menos duros. O importante é entregar resultados ao povo, à nação e ao país. E conseguimos. O CNAD é a concretização do sonho da dignificação da profissão do artesanato e de darmos às artes e às indústrias criativas a centralidade que merecem no discurso político, mas também nas obras estratégicas que devemos construir não só para o presente, mas também para o futuro, afirmou, homenageando uma vez mais a “Geração CNA”: Manuel Figueira, Luís Queiroz, Bela Duarte e companheiros.
Nesta edição – em que a URDI se baseia no conceito da oralidade -, Abraão Vicente lembrou que esta tem como suporte a língua cabo-verdiana, com todos os seus sabores, sotaques e ilhas. “Foi bonito ouvir as nossas cantoras Giselle Silva, Cláudia Sofia e o Coro Voz d’ Alma cantar os idiomas e os sotaques que provavelmente muitos pensariam desaparecidos“, frisou, referindo-se ao concerto “Teresa Lopes da Silva”, que abriu a feira e que foi muito aplaudido pelos presentes. “A língua cabo-verdiana é, sem dúvida, a construção máxima do povo deste arquipélago. Foi a construção máxima de resistência ao colonialismo, aos tempos de fome, ao desaparecimento massivo de milhares de cabo-verdianos nos tempos em que as nossas ilhas sofreram de certa forma com o abandono da metrópole. É a prova maior da nossa resistência de um país improvável a um país que olha com confiança para o futuro”.
Na sequência, o MCIC lembrou ainda que, daqui a três dias, assinala-se também o Dia Nacional da Morna, em que se celebra B.Leza, Cabo Verde e a humanidade, que tem a Morna como o seu património desde 2019. “Celebraremos Bana, Cesária Évora, Manuel d’Novas e todos os grandes cantautores, autores que de facto inspiraram a geração que veio atrás deles e com certeza inspirarão a geração do futuro. É por isso que esta feira não é apenas do artesanato e para a população do artesanato. Esta feira, desde há sete anos, celebra a arte como um todo”, assegura.
Enquanto município convidado, o vereador da CM do Paul enfatizou que participar na URDI é uma grande responsabilidade, sobretudo sendo um dos destaques, mas também é uma enorme honra. “Estamos aqui não só para prestigiar a cultura paulense e também a cabo-verdiana. A URDI tem vindo a abrir janelas aos agentes culturais, designers, artesãos, investigadores, estudantes e outros elementos da sociedade civil interessados. Veio proporcionar uma ligação entre o artesão e o público“, declarou José Cruz, que disse ainda considerar esta feira uma plataforma para conexão, formação e promoção daquilo que de melhor produzem os artesãos e criadores cabo-verdianos.
Para este autarca, ser um dos municípios destaques representa o reconhecimento pelo trabalho que tem sido feito em prol da cultura paulense. “Somos um município rico em história e com uma cultura fortemente enraizada na sua sociedade. Temos como grande objectivo continuar a promover um destino territorial integrado, capaz de atrair e suportar a carga que tal atração pode provocar no futuro. A aliança entre a história e a modernidade é um factor decisivo para melhorar a qualidade de vida, a dinâmica e a atratividade do município, com uma história rica e com um património natural e cultural de inigualável originalidade e valia. Paul ocupa uma centralidade destacada na ilha de Santo Antão.”
Também o seu colega da Boa Vista, o vereador Abel Ramos, se mostrou honrado com o convite para participar neste evento que, afirmou, não é apenas uma feira, mas antes um grande palco do reconhecimento do artesão enquanto indivíduo que recorre a recursos não automatizados para produzir objectos singulares, autênticos, versando a vivência colectiva, o sentimento humano e social nas suas diversas dimensões e expressões culturais.
“Cabo Verde é um país com uma identidade muito própria, fruto do casamento de povos que deu origem a esta nação crioula, mulata e senhora do seu destino, do seu pensar e do seu sentir no mundo. Estas características inscrevem o nosso país entre as nações que possuem uma cultura rica e diversificada, onde a ilha da Boa Vista ocupa um lugar central, sendo o berço da morna, da Imprensa Nacional, terra das cantadeiras, da olaria e da cestaria.”
Segundo este autarca, se é verdade que sol e praia constitui um dos maiores produtos turísticos da ilha, também é verdade que Boa Vista é portadora de excelente potencial no domínio do artesanato, da cestaria, da música, do teatro, da literatura, sendo estas deficientemente explorados. “O artesanato da Boa Vista sempre teve um papel importante na nossa cultura, tradição e vivências do dia-a-dia. O aproveitamento das matérias-primas locais proporcionou a criação de um artesanato de caracter utilitária. A população viu e aproveitou a oportunidade de trabalhar objectos manufaturados, explorando os recursos naturais de origem mineral como barro e a argila; vegetal como algodão, junco e curtumes de ramos de tambleiras e de origem animal como peles de cabra, couros e cascos de tartaruga.”
A cerimónia contou ainda com uma longa intervenção do Director do CNAD, Artur Marçal, que deu as boas-vindas, fez o enquadramento e detalhou a programação desta feira, e do presidente-substituto da CMSV, Rodrigo Martins, que se mostrou satisfeito com o facto da Praça Nova e outros palcos desta ilha acolherem as muitas actividades, expressão e dimensões importantes da cultura nacional, com participação expressiva de artesãos, artistas e designers. Para o autarca, este evento tem sido marcado pela troca de experiências e convívio, norteados pelo desígnio da afirmação contínua da URDI.
“Este é um evento de referência nacional e internacional, com repercussões positivas na valorização e fomento da cultura de forma inclusiva, na divulgação da capacidade criativa e inovadora dos nossos artesão e na estruturação da nossa oferta turística, que se quer cada vez mais sustentável, pautada pela diversidade e qualidade, e expressiva da nossa identidade, pois não há turismo sem produtos”, disse, augurando que a 7ª edição da URDI seja um sucesso.