Arranca logo mais à noite a 28ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo (Mindelact), com o espetáculo “Pantera” esgotado para os dois primeiros dias, no palco principal do Centro Cultural do Mindelo. Trata-se de uma criação de Clara Andermatt e João Luca em homenagem ao falecido músico e compositor Orlando Pantera, com participação especial de Mayra Andrade.
Em declarações em exclusivo ao Mindelinsite, João Branco garantiu que, apesar de todas as dificuldades, principalmente em termos de logística resultante da questão dos transportes internacional e interno, mas também de alojamento dos artistas em São Vicente, está tudo a postos para o início do festival de teatro. “Está tudo apostos. Estamos serenos a aguardar a abertura oficial logo mais à noite. Mas, o mais importante são os espetáculos. O palco 1, no CCM, já está montado. Estamos a falar de um espetáculo muito exigente, o Pantera, que é o maior grupo que vamos ter neste festival. As pessoas já estão cá, inclusive a Mayra Andrade, que está grávida e requer uma atenção especial.”
De acordo com este responsável, a 28ª edição do Mindelact, que decorre até 13 de Novembro sob o desígnio da “celebração”, terá a participação de companhias e artistas de 12 países diferentes, dos quais Cabo Verde, África do Sul, Portugal, Brasil, Angola, Espanha, Países Baixos, Costa do Marfim, Inglaterra, Moçambique, França e Ucrânia. “Vamos ter 40 espetáculos, em nove dias, incluindo a extensão na Praia. Uma parte importante são grupos nacionais, de Cabo Verde e da diáspora. Sempre dissemos que uma maior presença de grupos nacionais na programação é o resultado directo do momento teatral que se vive no país. O teatro cabo-verdiano está a viver um bom momento”, detalha.
João Branco destaca, a título de exemplo, o projecto Teatro Internacional de Cabo Verde (TICAVE), de Bernardino Tavares, que vive na Inglaterra e que montou uma estrutura semi-profissional com ingleses e cabo-verdianos naquele país europeu. “O objectivo do Bernardino Tavares é fazer teatro cabo-verdiano em língua inglesa para poder ter um maior campo de exportação do seu produto. Vem estrear aqui a sua peça Naked Soldiers, que é de um importante dramaturgo inglês. Estou curioso para ver este trabalho. Acho que é uma iniciativa interessante de teatro cabo-verdiano que nasce lá fora.”
Sobre o teatro cabo-verdiano feito no estrangeiro, o director do Mindelact revela ainda que, a quando da sua passagem recente por Barcelona, teve o privilégio de assistir a montagem da peça “Ensaio sobre a Cegueira”, uma co-produção do Teatro Nacional de São João e do Teatro Nacional da Cataluna, com uma atriz cabo-verdiana em cena. “Num dos maiores teatros da Europa, estava a atriz Lisa Reis. Isto deve ser, para nós, motivo de grande orgulho. Como também é motivo de orgulho termos Luciene Cabral em uma montagem mundial da bailarina e o coreografo Pina Bausch, que é uma das maiores companhias de dança do mundo. E a Luciene é uma figura de destaque.”
Tudo isso para concluir que, do ponto de vista de artes performativas, Cabo Verde está a viver um momento que se reflete na programação do Mindelact. “Estou também muito contente porque voltamos com o Ciclo Internacional de Contadores de Estóreas, que parou durante dois anos por causa da pandemia. Apenas o Festival Off continua ausente da programação. Mas teremos o palco 3, que de certa forma contrabalança. São apresentações feitas em palcos alternativos”, acrescenta, realçando que paulatinamente o Festival Mindelact está a retomar as suas actividades.
“Na verdade, a principal razão de não termos o Festival Off este ano tem a ver sobretudo com dificuldades de transportes interilhas e não com a pandemia. Neste momento é muito complicado trazer grupos do Maio, do Fogo e mesmo de São Nicolau, que fica mesmo aqui ao lado de São Vicente. Esperamos que no próximo ano ter a programação completa do Festival de Teatro Mindelact.”
Os espectáculos programados para este edição do Mindelact estão distribuídos pelo palco principal, no Centro Cultural do Mindelo, e pela Academia Livre de Artes Integradas do Mindelo. Há ainda outros espaços alternativos, oficinas e mostras de performances em São Vicente e na cidade da Praia.