A segunda edição do Micadinaia Fest, evento realizado pelo Centro Cultural do Mindelo e que celebra a espiritualidade da cultura, arranca logo mais, pelas 15 horas, com uma instalação artística de Janice Graça, que terá como base uma cabine de poesia. Até à meia-noite segue-se um conjunto de actividades assentes na oralidade – música e conversa -, uma exposição de teares contemporâneos de inspiração crioula e o concerto de solidariedade, “Na voz de Celina Pereira”, com jovens artistas e outras mais experientes.
António Tavares, director do CCM, explica que não é por acaso que o Micadinaia Fest acontece a 21 de Março, Dia Internacional da Poesia. Marca ainda a abertura da “temporada do CCM” e, por isso, é também visto como o dia da renovação ou a semente que vai germinar. “Esta é uma festa que mostra a força da poesia e da oralidade. Neste sentido, vamos ter uma cabine de poesia com a jovem Janice Graça. Faremos de seguida uma viagem pelo universo musical de Cabo Verde com o Dj João Barbosa, no Salão Nobre do Centro Cultural do Mindelo”, informa.
Um outro destaque vai para a inauguração, às 18 horas, de “Teada”, uma exposição que junta três autores: Bento Oliveira, Alex Silva e Manuel Oliveira. “É uma exposição que esteve patente no URDI 2018, mas que passou despercebida. Por isso resolvemos dar-lhe destaque no Micadinaia Fest. São grandes teares contemporâneos de inspiração cabo-verdiana, concebidos por estes três artistas com cordas de navios, redes de pesca e tampinhas de garrafa. Resolvemos chamar a exposição de Teada, porque vem da palavra tear.”
Por volta das 18h30, os visitantes são convidados para “dôs ded de conversa” com a doutora Ana Cordeiro”, que vai apresentar a Ilhéu Editora. Segundo Tavares, esta editora mindelense conta com alguma experiência e tem feito um grande trabalho no universo literário cabo-verdiano. Aliás, está por trás do escritor Germano Almeida, prémio Camões. Às 19 horas, está previsto uma conversa em que se mistura Flam poesia (diz-me poesia em português) e Chá poético, que tem por detrás o livro escritor por Martine Blanchart sobre as mulheres cabo-verdianas na França. “O nosso objectivo é dar a conhecer um outro lado da mulher”, frisa Tavares, que realça o facto de se estar a misturar nesta festa diversas formas de arte e gerações.
O ponto alto deste dia será o concerto de solidariedade na “Voz de Celina Pereira”, cujas receitas revertem-se a favor desta artista que se encontra hospitalizada e que neste momento precisa não só de apoio financeiro, como também espiritual, de acordo com o director do CCM. Para ele, neste caso, a cultura cabo-verdiana tem de estar em força nesta corrente. “Neste universo Celina Pereira vamos ter jovens cantores e pessoas mais experientes. Por exemplo, teremos dois coros – Voz d´Alma da Escola Secundária Jorge Barbosa e Coral Bana do Centro Cultural do Mindelo, e ainda Zizi Vaz, Gia, Lutchinha, Gisele Silva, Corrine, Magui Martins e Eliana Rosa. São só mulheres a cantar Celina Pereira e não só”, informa Tavares.
Neste mês da Mulher, este concerto solidário acaba por ser também uma homenagem à mulher na literatura e na poesia e a Celina Pereira, que canta a literatura de Cabo Verde e é uma investigadora naquela que se pode chamar de música teatral, diz Tavares. Este esclarece ainda que a palavra Micadinaia foi “criada” pelo investigador João Varela, um cientista e poeta mindelense já falecido, também conhecido por João Vário, um termo que significa Mindelo Academia. Aliás, é esta a intenção por detrás de todas estas actividades, ou seja, ver Mindelo como uma academia. E as pessoas já começam a ouvir, a repetir e a reparar que João Vário fez algo valioso e muito grande. Este foi o propósito da 1ª edição do Micadinaia Fest: revelar a intenção deste poeta de criar um universo literário em São Vicente. Agora, nesta segunda edição, está-se a lançar a semente, que se espera venha a germinar.
Constânça de Pina