A cantora cabo-verdiana deu uma entrevista deliciosa ao famoso jornalista brasileiro Pedro Bial, no seu programa “Conversa com Bial”https://www.youtube.com/watch?v=EXFpsNDatNY, que fez a sua apresentação como uma artista que veio do continente dos seus tataravós, África, mais precisamente das dez ilhas de Cabo Verde, onde o português é a língua oficial. O jornalista destaca sobretudo o facto de Mayra Andrade ter um carreira internacional cantando em crioulo..
Pedro Bial apresentou a cantora Mayra Andrade como uma mestiça com personalidade e formação, mas apaixonada pela música brasileira, citando as suas preferencias por Caetano Veloso e Chico Buarque, que fazem parte da seu repertório desde muito cedeo. No Brasil, disse ainda o jornalista, já se apresentou com Gilberto Gil, Martinália, Lenine, Maria Gadu e Crioulo. E elogiou muito a forma de falar de Mayra, o seu “brasileiro do Rio de Janeiro.” “Eu me adapto. Acho que é uma característica do cabo-verdiano. Somos nómadas. Vivemos no arquipélago, mas no mundo também. Estamos temos uma certa facilidade com idiomas e, para mim, sotaque é música. Sotaques são partituras musicais e desde muito cedo peguei o bichinho brasileiro, e até brinco com algumas gírias”, reagiu Mayra Andrade.
Durante a entrevista, que se alongou por mais de meia hora, Pedro Bial afirmou que gostaria muito de visitar Cabo Verde, por conta dos feedbacks que já recebeu de amigos, que exaltaram a beleza do país e da língua. “E tenho a maior simpatia por um país cuja capital se chama Praia”, brincou este jornalista da Globo, ao que Mayra Andrade responde, realçando que cresceu na cidade da Praia. “Acho que o nome Praia representa muito bem a vivência e o quotidiano nosso. Temos interior, temos montanha, temos uma especie de sertão, mas sempre vamos dar no mar.”
Falando a partir de Lisboa, onde atualmente residente, Mayra Andrade falou da sua gravidez, falou dos shows e da gravação de uma música que integra o novo disco de Criolo. “Já não gravava há sete anos. Criolo fez uma série de parcerias no seu mais novo trabalho e fui uma delas. Gravamos uma música, que acho poderosa, sobre a tolerância religiosa e que se chama ‘Ogum, Ogum’”, pontuou, que aproveitou para lamentar a inexistência no país das religiões africanas que permitiam saber, do seu ponto de vista, um pouco mais sobre às origens continentais e herança africana.
A conversa girou ainda em torno de temas como recente tournée no Brasil, que percorreu vários estados e da decisão da cantora, que fala várias línguas, de privilegiar o crioulo na sua obra, para uma carreira internacional. “São diferentes Mayra”, interrogou, ao que esta reagiu dizendo ser apenas uma. “Cada idioma vem de um lugar vem de um lugar do nosso corpo. Ele vibra de um jeito diferente e traz um DNA diferente. Acho que os idiomas trazem esta riqueza ao meu trabalho. Cantar em crioulo não foi uma escolha, é ser. Somos um povo pouco conhecido, de um país desconhecido, com uma cultura riquíssima e que se expressa essencialmente neste idioma, que é uma mistura das línguas africanas e do português”, detalhou, frisando que o crioulo é também a ponte que liga as ilhas à sua diáspora.
Abordaram ainda as similaridades entre os dois países, do encontro da cantora com Caetano Veloso, da parceria no documentário do imortal Dominguinhos, de entre muitos outros assuntos.