Maira Andrade é capa da revista brasileira Veja, no mês da consciência negra. A cantora e compositora, que aterrissa em São Paulo com a turnê ReEncanto, com shows esgotados, faz um mergulho na música africana, discorre sobre a sua visão do mundo, mas também fala da Palestina, da maternidade e da migração. “Seguir teu instinto pode te levar para muito longe”.
Segundo a reportagem da Veja, à primeira audição, é difícil não se apaixonar por Mayra Andrade, 40, e captar algo muito familiar ao Brasil, ainda que com algum mistério da língua cabo-verdiana, para quem não a domina. “Do arquipélago atlântico que soa conterrâneo, Cabo Verde, a cantora e compositora ganhou o mundo e decidiu voltar à essência de sua arte em projeto mais recente, o disco e a turnê ReEncanto, que retorna este mês com dois shows esgotados na Casa Natura Musical, nos dias 29 e 30”, noticia.
Mayra Andrade, que se tornou mãe de uma menina no segundo semestre de 2022, fala da maternidade e da sua filha. “A transformação da mulher na gestação começa de forma muito silenciosa, mas profunda. Comecei a sentir uma necessidade de recolhimento até na música. Eu viajava o mundo com banda e salto alto, e meu corpo pediu para sentar em uma poltrona e criar um ambiente de casa”, descreve a cantora que estava em meio à turnê de seu disco mais pop, Manga (2019), influenciado pelo afrobeat.
Então, escreve, nasceu a ideia de revisitar o próprio repertório em shows voz e violão, acompanhada no palco somente do guitarrista Djodje Almeida — esse será o formato das apresentações no Brasil, que também acontecem em Brasília, no dia 27 e, em dezembro, em Curitiba (2), Porto Alegre (4) e no Rio de Janeiro (7). O que seriam poucas datas virou uma turnê que se estende até hoje, além de um disco ao vivo gravado em 2023 no London Jazz Festival. “O show se revelou portador de uma energia muito especial. A aura daquele momento foi se multiplicando e me mostrou que seguir seu instinto pode te levar muito longe”, diz. “De dentro do ventre, minha filha conduziu muitas decisões para este show. Uma mulher, quando está dando à luz, muitas vezes sente a necessidade de tirar a roupa, virar meio bicho. Senti a necessidade de tirar as roupagens musicais e me entregar de forma muito mais nua e crua”, define.
Desde 2020, a cantora é uma artista independente, sem gravadora. E seu objetivo hoje é encontrar um novo ritmo, agora com uma filha, para deixar fluir a criatividade. “Quando você é mãe solo e viaja o mundo e é presente, leva sua filha. Assim, aquele silêncio do qual brotavam tantas coisas espontâneas acontecem menos. O mais importante agora é criar uma nova rotina em que meu bem-estar psicológico, emocional e físico esteja recalibrado, para que eu possa escrever”, diz. Essa é sua prioridade, antes de compreender o próximo caminho musical. “Sinto que voltarei para algo mais energizado e eletronizado. Mas não acredito que será uma continuidade do Manga. Estou curiosa para perceber quem nasceu em mim agora. E essa pessoa vai precisar de espaço e silêncio para encontrar as chaves. Tem muita coisa aqui dentro.”
Mayra nasceu em Cuba, mas com apenas poucos dias de vida retornou ao país, mais precisamente a cidade da Praia. Morou também em Senegal, Angola e Alemanha na infância, devido ao trabalho do padrasto, diplomata. Aos 17 anos viajou para Paris (França) para cursar arte e comunicação, mas abandonou os estudos para seguir carreira musical. Há dez anos fixou residência em Portugal.
