O ministro Abraão Vicente enalteceu ontem à noite o contributo que o Mansa Floating Hub tem dado para a projeção mundial da cidade do Mindelo, pela peculiaridade dessa obra arquitectónica e a dinâmica artística provocada em S. Vicente neste um ano da sua existência. O governante afirmou durante um cocktail para assinalar o primeiro aniversário do estúdio flutuante, e receber os artistas que vão actuar no festival da Baía das Gatas, que a cidade do Mindelo acaba por ser uma seta apontada para a modernidade graças a construção na baía do Porto Grande da emblemática arquitectura, mas também do criativo Centro Nacional de Artes e Design. Para o governante, são duas obras arquitectónicas de referência nacional e que não se encontra outro paralelo em Cabo Verde.
“O estúdio e o CNAD colocam Mindelo no rol das cidades modernas que têm na arquitectura e design algo mais além da beleza e da simpatia do seu povo”, enfatizou o ministro do Cultura e do Mar, para quem o arquitecto Kunlé idealizou um marco artístico, que parece simples, mas envolve muita engenharia na sua construção.
Abraão Vicente enfatizou que o estúdio é um investimento privado capaz de projectar a ilha de S. Vicente. Por isso fez questão de agradecer a “magia” em torno desse espaço vocacionado para a promoção cultural e turística da cidade do Mindelo. Graças a essa visão de Samba Bathily, lembra, a baía do Porto Grande passou a ser mais conhecida a nível mundial.
Nesta senda, A. Vicente aproveitou para reforçar a mensagem antes proferida por Samba Bathily no sentido de os cabo-verdianos aproveitarem as oportunidades criadas com investimentos do género.
“Não podemos continuar a dizer que somos cosmopolitas e abertos ao mundo e depois colocarmos dúvidas sobre tudo o que acontece. Aqui está uma grande ideia. A oportunidade surge se trabalharmos e formos ambiciosos o suficiente para ver que, por trás do entretenimento e do investimento, da música e da arquitectura, está o negócio – o dinheiro. E o dinheiro é importante”, enfatizou o ministro, lembrando que nenhum país consegue seguir em frente sem dinheiro. “… porque tudo custa dinheiro!”
O ministro da Cultura elogiou, por outro lado, o empenho do edil Augusto Neves, que, diz, foi dos poucos resilientes que organizou o festival da Baía das Gatas em pleno auge da pandemia da Covid-19, apostando numa emissão online. Desta forma, salienta, a Câmara de S. Vicente conseguiu dar algum rendimento aos artistas e fez com que a mística da marca “Baía das Gatas” não se perdesse. E, segundo Abraão Vicente, ficou claro o papel preponderante da cultura na retoma da economia no pós-pandemia. Um exemplo simples, prosseguiu, é o impacto que o festival tem na vida de dezenas de famílias que, por esses três dias apenas, conseguem às vezes o rendimento de praticamente um ano.
Um ano do Mansa Floating Hub
Um ano passou como um pulo na vida do Mansa Floating Studio, um equipamento que, conforme a gestão do espaço, recebeu os mais diversos tipos de eventos, como retiro para criativos e dos membros dos Influenciadores Africanos para o Desenvolvimento do PNUD, lançamentos de programas, actividades infantis, gravação de programa televisivos, conferências de imprensa, espectáculos de dança, exposição de fotografias e pinturas, “sempre apostando na valorização da cultura cabo-verdiana e africana”.
Focado nestes resultados, Samba Bathily referiu no seu discurso que a construção do estúdio em cima do mar não foi tarefa fácil, por ser uma obra muito técnica. Agradeceu por isso o envolvimento de uma equipa composta por arquitectos e engenheiros do continente africano e da Europa. Uma parceria, que, segundo o empresário, representa o espírito das suas iniciativas, que visam, em primeiro lugar, agregar conhecimentos, mas ter sempre em mente o desenvolvimento do continente africano. Para ele, é fundamental provocar uma mudança na mentalidade do povo africano, para voltar o olhar para dentro. No dia que isso acontecer, diz, a economia africana irá alcançar o patamar que merece.
“Queria mencionar isto: quando cheguei cá na cidade do Mindelo, há cinco anos, pude descobrir uma cidade que pode ser um hub para o turismo e a cultura africana. Na nossa intervenção pensamos como especializar cada Estado africano através de um projecto competitivo. Aqui em S. Vicente descobri uma ilha vocacionada para o turismo e a cultura e que tem como vantagens o seu clima, a estabilidade e a sua posição estratégica”, elencou Bathily.
O turismo, segundo o empresário, desponta como um impulsionador económico sem paralelo. Mas para isto é preciso que os africanos prefiram conhecer o seu continente, e não pensar sempre em viajar para a Europa e os Estados Unidos. “Em dez viagens ao estrangeiro, aposto que vocês foram de férias fundamentalmente para Portugal, Holanda e os Estados Unidos. Mas este não é um fenómeno típico dos cabo-verdianos, pois está presente em muitos países africanos”, realçou Samba Bathily numa mensagem direcionada aos presentes.
O empresário revelou dados segundo os quais África dispõe de um mercado turístico interno em torno de 88 milhões de pessoas. Uma economia que, diz, movimenta em torno de 47 bilhões de dólares. “Imaginem se apenas 10 por cento dos africanos viajassem pela África”, lançou.
Para este empreendedor, Mindelo poderia facilmente receber pelo menos um milhão de turistas africanos por ano, o que iria trazer muitas oportunidades de emprego. Mas, prossegue, isso pressupõe uma abertura mais ampla para o mundo, que os mindelenses estejam mais aptos a receber visitantes porque o primeiro beneficiário seria a própria economia da ilha de S. Vicente.
Samba Bathily tem esse sonho em mente pois, diz, é fundamental levar os africanos a terem uma percepção melhor da África. E para ele os cabo-verdianos devem estar cientes de que são africanos e que o futuro do país está na África.
Como anfitrião, o autarca Augusto Neves agradeceu ao empresário a sua disponibilidade em viajar para S. Vicente e participar nesse cocktail. Neves enfatizou que a Câmara de S. Vicente tudo fez para manter o festival da Baía das Gatas activo, mesmo nos momentos mais difíceis. Segundo Neves, a realização do festival durante a pandemia foi fruto do esforço da equipa camarária, dos produtores e patrocinadores. Uma prova que, na sua perspectiva, mostra que a autarquia soube apostar na cultura como ferramenta para driblar os impactos da pandemia.
A partir desta sexta-feira, assegura Neves, os amantes do festival vão disfrutar de um espaço mais estruturado e confortável, fruto dos trabalhos executados nessa zona balnear. “Fizemos um arranjo melhor do espaço para tornar Baía mais acolhedora graças ao projecto financiado pelo Governo e a CMSV. A obra está ainda em curso, mas estamos certos que vai criar melhores condições nessa baía, que é conhecida no mundo inteiro”, frisou o presidente. Uma prova do peso do festival da Baía a nível mundial, segundo Neves, foi a prontidão como o grupo Morgan Heritage aceitou vir actuar, apesar dos problemas que afectam o mundo e das dificuldades financeiras da CMSV.