Jaje, baiana de 72 anos: “Se depender de mim, Montsu vai ganhar”

Se depender da entrega e entusiasmo de Jaje, o Monte Sossego vai ser o próximo campeão do Carnaval de S. Vicente. Esta baiana de 72 anos, bastante famosa na cidade do Mindelo e por demais amada em “Montsu”, continua igual a si própria: jovem, enérgica, carinhosa, brincalhona, amiga de toda a gente e dona de uma invejada disciplina. Nunca falha um ensaio e é das primeiras pessoas a meter-se na fila para sambar ao ritmo da batucada durante mais de uma hora seguida. E ainda resta força para o que vier a seguir.

“Se vamos ganhar este ano? Claro que sim, com fé em Deus”, diz com toda a segurança, enquanto esboça um sorriso e os seus olhos brilham de entusiasmo. Sim, entusiasmo, porque Jaje tem o Carnaval no sangue como poucos. A sua entrega é prova disso.

Desde criança que celebra o Entrudo. Como conta, ela é do tempo das festas de Jon Tolentino, quando “rusga tava levá ke pau na cabeça”. “Herdei o Carnaval da minha mãe. Ela costumava levar-me consigo para os assaltos. No dia do Carnaval fazia-me fantasias, vestimentas simples, baratas mas que me deixavam radiante”, explica Jaje, que recebeu o nominho de um irmão já falecido.

Falar de Jaje é contar parte da história das Baianas de Monte Sossego, um grupo que emana carinho e um outro nível de respeito dentro do carnaval de São Vicente. Primeiro por causa da idade das senhoras, depois pela beleza dos seus trajes. Elas constituem um grupo à parte, dentro de um todo. Aos 72 anos, esta jovem-idosa é a baiana mais velha, mas talvez a mais dinâmica e participativa nos desfiles desse seu grémio do coração. “Sou Montsu de corpo e alma. É o meu grupo. Já fui até homenageada pelo Patcha numa festa no Mindel Hotel. Tenho um diploma. Dei o meu best nessa noite com o meu sapatim de tukim”, conta.

Grupo Baianas de Monte Sossego

Esta baiana vai brincar o Carnaval até o seu último dia. Seguro. “E no dia do meu funeral, não vai caber espaço para tanta gente”, diz esta mulher que tem o dom de travar amizade com toda a gente. Enquanto esse dia não chega, vai “espaiando” o seu “samba no pé” pelo asfalto de Mindelo.

Sem grandes recursos, Jaje costuma fazer rifas para conseguir fundos que aplica na confecção dos trajes, que são bastante elaborados e caros. Mas conta também com o carinho de amigos como Toi d’Caravela, Adriano de Bento Forrador e Patcha, o presidente de Montsu. “Já estou pronta para entrar na rua de Lisboa. Tenho sangue na veia, força na canela. Quando as minhas amigas me veem desfilando dizem: Oiá kel diaba. Força lá Jaje!!!!”

Kim-Zé Brito

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