Cresceram juntos, têm uma amizade tão alicerçada que se tratam por irmãos, apesar de não serem do mesmo sangue. Agora, Sílvia Gomes, 20 anos, e Roberto Roque, 18, querem transpor essa irmandade para o palco da música. Apreciadores de estilos musicais que vão do tradicional ao POP, estes jovens começam a alinhavar carreiras a solo, mas que não lhes impede de trabalhar em parceria. Tanto assim que há quatro semanas Sílvia fez a sua estreia nas noites cabo-verdianas, com repertórios compostos por Morna, Funaná, R&B, etc., canções escolhidas à medida da sua timbre. Com ela “levou” o irmão e juntos deixaram as suas vozes ecoar em sintonia, para agrado do público presente nesse espaço de divertimento nocturno.
“Foi a minha estreia, felizmente que tudo correu bem. Estava um pouco insegura, mas fui estimulada pelo guitarrista Kim. Ensaiamos durante uma semana e fomos actuar”, revela Sílvia Gomes, que sonha ser uma cantora profissional. Mas esta admiradora de Rihanna, Ceuzany e Elida sabe que terá de trabalhar muito para superar esse desafio pessoal. “Cada vez está mais complicado realizarmos os nossos sonhos. Surgem tantos obstáculos que nos desanimam. Já chorei muito, mas não vou desistir porque algo me diz que vou conseguir.”
Cantar a solo nessa noite não foi propriamente uma novidade para Roberto, 18 anos de idade. Há algum tempo que este jovem vem tentando usar as noites cabo-verdianas como trampolim para o “estrelato”, embora neste momento esteja mais focado nos estudos. Mas este estudante sabe exactamente onde quer chegar: lançar a sua carreira a solo e ao mesmo tempo criar um estilo próprio. “Quero levar a minha música a todos os recantos de Cabo Verde e ao mundo. Compor as minhas músicas e cantar com paixão. Quando fazemos algo com amor nunca nos cansamos”, diz Roberto, fã incondicional do cantor Hilário Silva, a sua fonte de inspiração. Tem no seu repertório todas as músicas deste artista e, diz, quer seguir o exemplo de Hilário, que conseguiu criar a sua própria assinatura artística.
Embora tenham criado juntos na zona de Chã de Alecrim, Sílvia e Roberto fortaleceram a sua amizade no Coral da Escola Jorge Barbosa. Aliás, este grupo foi crucial na formação musical de ambos. Nesse coro aprenderam técnicas de voz, a cantar música tradicional cabo-verdiana e a encarar o público. Foi com a ajuda do professor Valério Miranda que Sílvia, por exemplo, aprendeu a ultrapassar o medo de encarar o público. “Antes gostava mais de cantar música Pop, mas foi graças ao coral que passei a gostar da música tradicional, em especial da morna”, confessa essa aluna do curso superior de Estudos Ingleses, para quem entrar para o coro da escola Jorge Barbosa tem-lhe permitido definir o seu caminho musical.
A mesma coisa se passa com Roberto, que considera esse coral o seu alicerce no mundo da música. “Estar no coro tem-me ajudado a aperfeiçoar a minha capacidade artística e a gostar cada vez de cantar”, confessa esse aluno do nível secundário.
Sílvia e Roberto sentem uma enorme cumplicidade quando cantam em duo. Por isso querem continuar a parceria, ao mesmo tempo que cada um tenta desenvolver a sua carreira pessoal.
Kim-Zé Brito