“Histórias e Memórias de Mulheres de Cabo Verde em Portugal” é o título de um livro que a UMAR (União das Mulheres Alternativa e Resposta) deu a estampa em Lisboa e que consiste em 11 entrevistas a imigrantes cabo-verdianas integradas na sociedade portuguesa. Protagonistas que trabalham como operária, artista, jornalista, professora, empregada de limpeza, economista e ativista.
Em declarações ao Mindelinsite, Teresa Sales, coordenadora do projecto Memória e Feminismos da UMAR, disse tratar-se de um outro olhar sobre a comunidade feminina cabo-verdiana radicada, ou que já viveram em Portugal, diferente do estereótipo de serem, necessariamente e sem qualquer desprimor, empregadas domésticas.
“O livro demonstra muita coisa, entre as quais a capacidade das mulheres em adquirir conhecimento como uma ferramenta emancipatória, empreendendo muito trabalho para o conseguir”, fez saber Teresa Sales, para quem as mulheres entrevistadas conseguiram transmitir muita emoção para o livro e a ideia de que são mesmo muito ativas.
Desta forma, admite Sales, o objectivo do projecto é mostrar a mobilidade social dessas mulheres, das mães, das filhas, ou seja identificar o percurso que tiveram e do que para elas é considerado de prioritário.
“A forma do empoderamento de qualquer comunidade ou qualquer sociedade passa pelo ensino, formação pela aquisição de conhecimentos”, considerou a responsável pela organização do “Histórias e Memórias de Mulheres de Cabo Verde em Portugal”, que notou ainda o facto de ser essa também a ideia que é passada ao longo das páginas do livro. Citou ainda a este propósito a tarefa da professora Ana Josefa Cardoso, que é de levar o ensino do crioulo para as escolas portuguesas.
O “Memórias de mulheres de Cabo Verde em Portugal” consistiu, no dizer da responsável da UMAR, na recolha de testemunhos de algumas destas mulheres ouvindo-as sobre as suas experiências, da sua integração e dos seus sonhos.
Na organização do livro, os separadores identificam a década de chegada a Lisboa, anos ’70, passando pelas que vieram no anos ’80 e ’90 do século passado e até as que continuam a chegar nos dias de hoje, bem como as já nascidas em Portugal. Dentro de cada separador a organização é feita por ordem decrescente de chegada. O mesmo se passa com o capítulo dedicado às pioneiras da OMCV. Já o capítulo que trata das mulheres nascidas em Portugal, a organização dos textos reflete uma ordem decrescente de idades.
O livro editado pela UMAR teve o apoio financeiro da CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género), de que é Presidente Sandra Ribeira e que apresentou o livro num webinar com a presença de 70 pessoas, entras as quais 6 das entrevistadas.
A UMAR é uma organização em Portugal congénere da OMCV de Cabo Verde que, tal como esta, segundo a responsável, há muitos anos pugna pelos direitos das mulheres e a igualdade de género. “Urgiu, pois, falarmos com aquelas que após a descolonização trabalharam para a construção de uma organização que salienta e apoia o papel das mulheres na construção de uma sociedade mais igualitária”, concluiu Teresa Sales.
Ressalva-se que o livro presta também uma homenagem a cabo-verdiana Helena Lopes da Silva, já falecida, que foi médica no Hospital de Santa Maria em Lisboa, conhecida nas lutas feministas da década de 1980 em torno da despenalização do aborto em Portugal. Pertencia ao grupo “Ser Mulher”.
Na CNAC, Campanha Nacional pelo Aborto e Contraceção, Portugal, foi uma das dinamizadoras do grupo “Médicos pela Escolha”, assim como esteve envolvida nos referendos sobre a despenalização do aborto. Helena Lopes da Silva é recordada como uma mulher que defendeu a independência do seu país, que projetou na sociedade as mulheres cabo-verdianas e que soube ligar a luta feminista à luta antirracista de forma exemplar.
João do Rosário