O fotógrafo Hélder Paz anima esta terça-feira, 05 de abril, uma conversa aberta sobre fotografia e sobre a sua exposição “A (Luz) que (Não) Vemos”, no Centro Cultural do Mindelo. Antes, a partir de hoje, segunda-feira, estarão patentes ao público 18 fotografias do Mercado da Praia, em uma outra perspectiva e com outra noção do espaço, da autoria deste fotógrafo santantonense.
Sobre a exposição, escreveu o conhecido e experiente fotógrafo português José Eduardo Cunha, “não há uma gramática que faça a ponte entre o que as palavras procuram descrever e o que as imagens mostram. Este é um namora antigo e não correspondido, traído à partida por aquela injusta e cruel sentença, em tom de epitáfio, de que elas (as imagens) falam por is e são suficientemente eloquentes no seu silencio hierático (valem por mil palavras, diz-se).”
Mais directo, afirma que falar da imagem fotográfica é um exercício ingrato, porque na sua condição de “texto” ela tende a dispensar as palavras e o seu silencio, a rivalizar com elas. “Quem sabe se as imagens ‘fogem” das palavras com medo de estas as capte, ou as capturem? Só a teimosia dos fotografias e a imprudência dos escreventes propõem contrariar este paradoxo e este desencontro irresolúvel. As imagens possuem uma agudeza que só a custo as palavras atingem”, pontua.
Relativamente ao trabalho de Hélder Paz, diz, o processo de fragmentação da realidade, próprio da condição fotográfica, antes de ser uma opção técnica é um exercício estético de descontração criativa. “Para a sua arte, o que importa não é captar um lugar reconhecível, explorando o seu potencial estético com base em clichês, mas recriar o espaço a partir de referencias, aparentemente secundarias, formas contrastantes, planos inusitados e subtis jogos de simetria, ângulos e linhas, elementos espaciais que criam com o olhar do arquitecto, que ele também é”, acrescenta.
Em “A (Luz) que (Não) Vemos”, prossegue, o fotografo escolhe como um ponto focal em altura, que funciona como eixo heliocêntrico em torno do qual tudo se move, permitindo-lhe um olhar abrangente, em plongé, omnipresente e discreto, como se este ausentasse da cena, para fragmento-a-fragmento, reconstruir uma ideia de lugar, que já só subsistisse como possibilidade ficcional vagamente mnésica.
Natural da ilha de São Antão, Hélder Paz estudou arquitetura e urbanismo no Rio de Janeiro, Brasil. Já participou de varias exposições colectiva e individuais. É co-autor em oito antologias de fotografias contemporâneas editadas e publicadas em Portugal pela Chiado Editora e Edições Vieira da Silva. Foi nomeado por duas vezes na categoria “Cultura” nos Somos Cabo Verde – Os Melhores do Ano. Em 2020 participou no Festival Internacional de Fotografia Instantes em Avintes, Portugal.