Grupo teatral formado na OMCV pondera levar a peça “Amdjer” a palcos nacionais e além fronteira

As encenadoras da oficina teatral de mulheres realizada na OMCV em São Vicente esperam levar a peça “Amdjer” para outros palcos nacionais e além fronteira. Após o culminar da formação no último domingo, que expos ao público um elenco feminino a contar a história de cada uma numa primeira performance, em torno do assédio que essas mulheres estão sujeitas, as encenadoras Ana Rita Ferreira e Daniela Santos decidiram que o trabalho deve ter uma continuidade.

“O objetivo é voltar a apresentar a peça em São Vicente e noutras ilhas com os mesmos elementos e, quem sabe, juntar mais pessoas. Queremos mostrar o produto, talvez com algumas alterações já que tivemos apenas menos de um mês para trabalhar com elas. Gostaríamos de falar sobre outras coisas e que elas aperfeiçoassem as partes mais performativas”, diz Daniela Santos, uma das encenadoras.

Foto: OMCV-SV

De acordo com a atriz e encenadora Ana Rita Ferreira, a ideia é levar a peça para Portugal e fazer uma residência artística. Sem saber em que moldes, o certo é que as portuguesas querem continuar o trabalho que começaram em Cabo Verde.

A peça teve uma primeira apresentação no passado domingo na academia ALAIM e foi uma experiência surpreendente para as jovens actrizes, visto que o texto foi inspirado na história de vida de cada delas. “Não se trata de uma narrativa, não é uma história do início ao fim. É teatro documental, com histórias reais, das mulheres a falarem sobre as suas vidas e nós juntamos aqueles factos com jogos performativos, com danças, com música, com cena teatrais, mas são elas ali expostas. É uma coisa muito delicada e as pessoas ficaram algo surpresas”, diz Ana Rita Ferreira.

Um estímulo diferente que as jovens acreditam ter tocado o público, mesmo nas palavras fortes que ouviram das novas atrizes, mas que as encenadoras preferem retratar como um choque de realidade. “Algumas expressões eram mesmo fortes e disseram-nos que poderíamos ter tido algum filtro, mas como não somos muito fluentes em crioulo e há muitos aspetos que reproduzem o assédio por que passam, na apresentação elas relataram justamente como o ouvem”, sublinham as jovens.

O trabalho voluntário realizado no Mindelo está concluído e as jovens, que estão neste mês de partida para Portugal, esperam regressar para dar continuidade ao projeto.

“Estamos abertas porque, quanto maior for a dimensão do projeto, melhor. Quem sabe se a nossa próxima temporada não seja maior, talvez mais um ano”, assegura Ana Rita.

De acordo com as jovens, a experiência foi curta, mas intensa. No tempo passado em Cabo Verde, dizem, aconteceu tanta coisa que parece que viveram uma segunda vida, visto que tiveram oportunidade para trabalhar dentro das suas áreas de formação em várias vertentes. “Até ao nível pessoal crescemos muito, faz-nos querer continuar aqui porque aqui sentimos que conseguimos aquilo que procurávamos”, garante Daniela Santos.

De acordo com as mesmas, foi possível neste tempo trabalhar o teatro como funcionalidade artística, mas também como utilidade social e comunitária. “Uma junção perfeita”, na visão de Ana Rita.

O facto de trabalharem também com textos em crioulo foi uma “escola” para as jovens, cuja língua ainda é novidade no dia-a-dia de cada uma e as fez sair da zona de conforto.

“Sentimos uma dificuldade que nunca tínhamos enfrentado antes, já que estávamos a trabalhar com uma língua em que não somos fluentes. Havia certas coisas que de vez em quando não era possível interpretar enquanto encenadoras”, expõem as jovens. Mesmo assim decidiram arriscar e trabalhar com o crioulo, por ser a língua das participantes da oficina teatral, embora uma das formandas tenha optado por “viajar” entre o crioulo e o português, “num jogo feliz”.

Sidneia Newton

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