Serenata vai homenagear a cantora Jaqueline Fortes, numa gala de reconhecimento pelo contributo para o engrandecimento e internacionalização da música cabo-verdiana, revela num exclusivo ao Mindelinsite o mentor do grupo, Kikas Silva. A homenagem está marcada para o dia 23 de Março, durante um espectáculo de vozes femininas.
Segundo o entrevistado, Março é um mês dedicado às mulheres e o Serenata sempre faz um espectáculo denominado “Só Mulheres”, com cantoras de todo o país. Este ano decidiram unir o útil ao agradável e homenagear a cantora Jaqueline Fortes. “Entendemos que é uma boa altura para homenagear e gratificar esta artista por tudo o que fez e continua a fazer para a música cabo-verdiana”, diz Kikas, para quem este é também um sinal de agradecimento a esta mulher de fibra por parte dos sanvicentinos.
A semelhança dos outros artistas já homenageados pelo Serenata, caso do Morgadinho, Jorge Sousa, Malaquias Costa, Nho Balta, Titina e Djosinha, Jaqueline Fortes receberá um troféu para marcar a data e a homenagem. Também dividirá o palco com outras mulheres-artistas de todo Cabo Verde. “Normalmente homenageamos um artista desta região, que reside no exterior. Antes as homenagens aconteciam a cada seis meses, mas nos últimos anos optamos por fazer isso anualmente. Depois de Jaqueline, fica a faltar apenas um artista, o Leonel Almeida, para fecharmos este ciclo”, frisa.
Filha de pais cabo-verdianos, Jacqueline Fortes nasceu no Senegal. Na página da Fnac pode-se ler que aprendeu com a mãe a falar crioulo e, com ela, também adquiriu o amor à Cabo Verde, terra das suas origens, do som da guitarra, do cavaquinho e das mornas que acalentavam a saudade.
Durante a década de 70, actuou com vários grupos no Senegal, cantando morna, coladera, salsa… Mas a vontade de conhecer Cabo Verde nunca a abandonou. Este sonho só se concretizou em 1979, com 25 anos. Esta visita antecedia a sua mudança para França, onde passou a residir.
A convite de Bana, aquando de uma passagem por Holanda, Jacqueline, gravou o seu primeiro disco “Seis Anos na Tarrafal”, que viria a ser editado em 1981. Em 1987 “Diálogo”, o tema que deu nome ao disco e que ficou conhecido por “marido exemplar”, uma referência na sua carreira. Em 1990 gravou o disco “Coraçon Calma”. E, em 1996, “Valor di Amor”.
Dedicada e absorvida pela vida familiar, Jacqueline Fortes ausentou-se durante um período, deixando no seu público o sabor da saudade. Regressou com o disco “Terra d’nhas Gente” apresenta 12 temas inéditos, de autores como Teófilo Chantre, Nitu Lima, sendo oito dos temas de autoria da própria Jacqueline, um caso raro na discografia cabo-verdiana.
Gravado no Studio La Villa no Mindelo, e misturado no Studio Do Soul em Paris, este disco conta com arranjos de Fernando Andrade, director musical de Cesária Évora. “Terra d’nhas Gente” homenageia o sentimento crioulo, o mesmo de que se deixou invadir no dia em que conheceu Cabo Verde. Infelizmente, não vendeu e nem teve a projecção que a artista esperava.
Mas, uma vez mais, Jaqueline deu a volta por cima, ao afirmar que nunca viveu e nem vive da música. Assume-se como uma artista por “vocação”.
Constânça de Pina
Foto: Imagem Youtube