“Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial” é o tema de um livro do escritor e cronista Adriano Lima, que será lançado amanhã no Centro Cultural do mindelo pelas 18 horas. Dedicada à memória dos 24.463 cabo-verdianos mortos por fome no arquipélago nos anos 1941, 42 e 43, mas também aos 68 militares das forças expedicionárias que faleceram por doença e acidente durante a sua missão em Cabo Verde na II Guerra Mundial, a obra visa resgatar um período histórico que, conforme o autor, já quase se perde na memória colectiva do povo das ilhas.
O trabalho, que será apresentado por Ana Cordeio e Lia Medina, fala de “tudo um pouco”. “Da actividade militar e seus envolventes e vicissitudes de operacional e logística, mas também do alvoroço que a presença das tropas representou para a rotina e a pacatez das ilhas”, informa Adriano Lima, frisando que a narrativa se debruça sobre a interacção dinâmica das forças militares com as circunstâncias concretas que as envolveram no quadro da sua missão. Ao mesmo tempo, diz, o livro abre espaço para pôr em evidência as múltiplas situações em que os militares interagiram com a sociedade civil.
Deste modo, sublinha Lima, há muitas histórias para contar e algumas de “grata memória” para as populações. Uma delas a acção médica e o apoio sanitário que as tropas disponibilizaram para os civis, “em que se destaca sobremaneira a figura grandiosa do capitão médico José Baptista de Sousa”, cuja imagem ainda perdura na memória do povo de S. Vicente. “Para não falar também das sobras de rancho que mataram a fome a muitas pessoas carentes, iniciativa em que se destacou o comandante de companhia capitão Fernando Marques e Oliveira.”
O autor atribui ainda um especial relevo ao aspecto social que envolveu as Forças Expedicionárias. Como recorda, Cabo Verde foi à época assolado por uma seca prolongada que, “agravada pelo descaso ou pela inoperância do governo central”, vitimou 24.463 pessoas, sobretudo aquelas que dependiam exclusivamente da agricultura para a sua sobrevivência. Do lado das Forças Expedicionárias, prossegue, reveste significado estatístico a circunstância da morte de 68 tropas, uma “trágica ironia” porque as mortes não resultaram de acções violentas ligadas à actividade militar, mas de doenças infecciosas que poderiam ter sido debeladas caso a penicilina estivesse já disponível nas ilhas.
Conforme informações avançadas no livro, entre 1941 e 1945, na II Guerra Mundial, 5.820 homens destacados pela então Metrópole, desembarcaram em Cabo Verde e distribuíram-se por S. Vicente (3.015), Sal (2.100) e S. Antão (705). Nestas ilhas prepararam posições defensivas contra um eventual invasor, mais precisamente a Alemanha. Tudo aconteceu porque Portugal, embora neutro no conflito, foi pressionado pela Inglaterra e pelos EUA a reforçar a defesa das suas ilhas atlânticas (Açores, Cabo Verde e Madeira) para evitar que Hitler as ocupasse e tirasse proveito do potencial estratégico dos arquipélagos.
Residente em Portugal, Adriano Lima será representado no lançamento do livro pelo primo José Soulé.