Filme-documentário “Nós, Povo das Ilhas” vai ser apresentado em S. Vicente, depois da estreia na Praia 

O filme-documentário  “Nós, Povo das Ilhas”, dos cineastas cabo-verdiano Elson Santos e moçambicana Lara Sousa vai ser apresentado no dia 11 de julho no auditório Onésimo Silveira da Universidade do Mindelo, após estreia no Auditório Nacional na Praia, no dia 4, no quadro das celebrações do 50⁰ aniversário da Independência. Elson Santos diz estar orgulhoso e emocionado com o lançamento em Cabo Verde e promete uma viagem emocionante por este importante, porém, muitas vezes esquecido episódio da história do país.

Depois da exibição no Festival de Cinema Independente de Lisboa, esta longa, que resgata uma parte da história do país e baseia-se em entrevistas com figuras influentes da política em Cabo Verde e na Guiné-Bissau, chega ao país “por dever de honra e orgulho”, segundo Elson Santos. Este cineasta que aproveita para convidar os cabo-verdianos a assistir “esta grande celebração da vitória da independência” para, juntos, cultivar, honrar e refletir sobre a memória da luta da libertação.

“Foi um longo processo; trazer o filme para o seu local de nascimento era um dever de honra e também uma forma de homenagear os personagens, coincidentemente por altura do 05 de julho”, diz sobre esta obra com co-produção da Soul Comunicação (Cabo Verde), Midas Filmes (Portugal) e Kulunga Filmes (Moçambique). Elson Santos reconhece, no entanto, que a ideia inicial era apresentar este filme-documentário no arquipélago por altura das comemorações do centenário de Amílcar Cabral, mas não foi possível pelo que decidiram fazer a estreia coincidir com os 50 anos da  independência de Cabo Verde. 

O filme passou por vários laboratórios internacionais, o que nos ajudou muito na sua evolução. Iniciamos o processo em 2020, em plena pandemia, depois fomos selecionados para participar no MirandasDoc, que foi o nosso primeiro laboratório. Lá assinamos um acordo com a RTP, depois fomos selecionados pelo Fundo Hot Docs-Blue Ice Docs no Canadá, tudo na perspectiva da melhoria. Estivemos também na CAN, ainda que em formato online, de entre outros,” descreve, realçando que toda esta trajetória teve como propósito a busca de financiamento, que escasseia no arquipélago. 

Após os elogios e aplausos recebidos pelos vários palcos por onde passou, Elson Santos diz esperar que o filme seja bem acolhido também em Cabo Verde, especialmente nesta altura. “Do nosso ponto de vista, este filme vai reforçar o debate sobre o silenciamento em torno da luta da libertação, do colonialismo e do apagamento da história. Entendemos que ainda não existe este debate e é urgente a sua realização porque muitos dos protagonistas já não estão entre nós. Trata-se de um processo perverso porque os ideais permanecem. Temos de falar destes temas de forma descomplexada, assumir os erros e os acertos.”

Sobre o filme, explica que surgiu a partir de uma foto esquecida de um grupo de 30 guerrilheiros cabo-verdianos clandestinos nas montanhas de Cuba, uma busca dos heróis silenciados de uma ousada e pouco conhecida operação militar, cujo principal objectivo era realizar o sonho de Amílcar Cabral de libertar o país do colonialismo. A missão não aconteceu, mas serviu de base preparatória para a luta armada de libertação que viria a culminar na proclamação da Independência a 5 de julho de 1975.

“O filme estabelece uma conversa com cincos dos integrantes deste grupo: o ex-presidente Pedro Pires, Agnelo Dantas, Júlio de Carvalho (recentemente falecido e a quem o filme é dedicado), Silvino da Luz e a única mulher do contingente, Maria Ilídia Évora, conhecida por Dona Tutu. Com eles viaja pelos anos de luta na Guiné e no Cabo Verde pós-pós-independência, refletindo sobre sonhos, pesadelos e o que é o país hoje entre a utopia e o esquecimento.”

Em suma, diz, “Nós, Povo das Ilhas” é mais do que um filme. É um convite urgente ao reencontro com as raízes da nação, um estímulo à reflexão crítica e um apelo à valorização da própria história.

Após a sua estreia em Cabo Verde, a película vai continuar o seu percurso natural, que passa por participar em festivais no estrangeiro, mas o objetivo maior é levar a obra para a diáspora, tendo em conta que, segundo o entrevistado do Mindelinsite, se trata de um mapeamento histórico e identitário de Cabo Verde.  

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