São o centro de atenção nos desfiles, esbanjam beleza e simpatia, mas poucos sabem a que custo. Quando cai o pano e os andores são retirados das avenidas é que começam a fazer as contas às mazelas físicas e emocionais.
Quem vê as rainhas de bateria e outras figuras de destaque no final dos desfiles é capaz de pensar que estavam numa batalha ou numa sessão de tortura, tantos os ferimentos e hematomas que apresentam. Como testemunham Andrea “Brodjinha” Gomes, Nelly Tavares, Miriam Rocha e Alécia “Lexy” Chantre, a factura que pagam é por demais pesada. No entanto, todas reconhecem que vale a pena passar por esse sofrimento, em nome do amor ao Carnaval.
Quem viu a alegria e entrega de Miriam Rocha, Rainha de bateria em título, não imagina o esforço titânico que fez para sambar durante horas. “Quando terminamos a primeira volta fui invadida por uma dor intensa. Estava toda ferida. Algumas pessoas do grupo disseram-me para desistir, mas senti todo aquele apoio da bateria e entrei de novo na Rua de Lisboa com toda aquela folia”, conta essa moça, que ficou ferida na testa, nas costas e principalmente nos pés devido aos enfeites do traje. “Os materiais do sapato rasgaram-me a carne”, revela a moça, que está disposta a passar por tudo de novo, se for preciso.
Andrea “Brodjinha” Gomes é outra Rainha de bateria vítima das exigências próprias de uma passista de destaque. No ano passado viu partir a sua costeira, assim que entrou na Rua de Lisboa. Acredita que este facto pode ter-lhe custado o prémio. Como se não bastasse esse azar, os ferros do acessório provocaram-lhe ferimentos nos ombros. “Despois do desfile fui levada diretamente para o hospital, por causa das dores, da depressão pós-desfile e também por estar emocionalmente abalada devido a notícia de falecimento de uma pessoa próxima, que recebi durante o desfile”, conta essa dançarina do Cruzeiros do Norte.
A sua colega de grupo, a Porta-bandeira Nelly Tavares, também ficou com sequelas físicas do desfile do ano passado. No seu caso, os ferimentos e as dores pelo corpo foram provocados por causa do efeito do vento no traje. “As dores perduraram dias e eram insuportáveis, mas a alegria de desfilar compensa”, admite Nelly, que este ano desfila como musa do Cruzeiros do Norte.
Além do sol e vento, outros fatores condicionam o desfile pelas Ruas d’Morada. O sonho da jovem Alécia “Lexy” Chantre em desfilar como rainha de bateria foi realizado há dois anos, como representante de Montsu. A preparação para o espectáculo incluiu encomendar do Brasil o sapato que iria usar. No entanto, porque houve um atraso na chegada do salto, a jovem optou pelo plano B e usou uma bota transparente, aberta nos dedos.
“A bota era aberta na zona dos dedos e tinha uma tira de plástico bastante forte. Fiquei suada, os pés começaram a desfilar para frente e a provocar-me cortes em cima dos dedos. Além disso criou-me várias bolhas nos pés logo na primeira volta. No intervalo fui descansar num dos hotéis, uma turista vendo a situação dos meus pés fez-me alguns curativos”, conta Lexy. Na segunda volta, prossegue, as dores eram “insuportáveis”, tanto assim que precisou ser carregada ao colo até ao palco em frente ao Palácio do Povo para conceder uma entrevista.
Essa situação afecta tanto as mulheres como os homens, mas nem todos quiseram relatar as suas experiências. Todavia deixaram claro que o carnaval merece todo e qualquer sacrifício pessoal.
Sidneia Newton (Estagiária)