Festival Oiá: Neu Lopes vai ministrar formação sobre captação de som em São Vicente

O realizador e produtor Meu Lopes vai ministrar esta segunda e terça-feira uma formação sobre captação, realizado no âmbito da quinta edição do festival Oiá que trouxe cinema e o audiovisual para a agenda cultural de S. Vicente, mas que teve de ser adiado devido a dificuldade em acertar os horários entre os participantes e o monitor. A formação acontece na Casa da Imagem do Liceu Velho.

Esta informação foi avançada ao Mindelinsite por Tambla Almeida, que aproveitou para fazer um balanço do festival, que terminou no passado fim-de-semana. “Todo o contexto a volta do festival esteve muito adverso, mas acabamos por extrapolar os resultados pretendidos, muito por conta do empenho da nossa equipa. Adverso porque enfrentamos muitos problemas a nível nacional e internacional e porque estamos a vir de um contexto em que os profissionais da área chegaram agastados. Não foi fácil voltar a colocar a máquina a funcionar”, explica o professor. 

A estes junta-se ainda todo o ambiente de desconfiança que se vive e que acabou por levar a alguma demora dos parceiros a confirmar e fazer parte do Oiá. “É uma situação que compreendemos. Neste momento, qualquer investimento que se queira fazer, seja publico ou privado, exige alguma cautela. Mas acredito que acabamos por dar uma resposta que convenceu não só os parceiros habituais, como também outros que já se prontificaram e mostraram que querem fazer parte deste nosso projecto. Para o pessoal do sector criativo, particularmente do cinema, é muito animador.”

Da parte do público, segundo Tambla Almeida, a organização sentiu que a proposta deste festival, com uma certa poesia, acabou por chegar ao coração das pessoas. “Digo isso não apenas por conta do feedback que tivemos dos parceiros que nos procuraram, como também pela maneira como a população mindelense reagiu mais um vez à todas as nossas actividades”, pontua, realçando que, por exemplo, em termos de programação, conseguiram ir além e incluir coisas novas. 

Estávamos a trabalhar num ambiente criativo onde propomos um caminho e acabamos por reforçar e trazer outros elementos. Por causa disso, sentimos o Oiá como um laboratório com margem para que os artistas e criadores pudessem ensaiar aquilo que é o seu próprio exercício. não é atoa que começamos por fazer a abertura com uma performance frente à CMSV, com uma serie de filmagens. E foi muito bom porque a resposta que tivemos a todos os níveis dá-nos força para investir mais”, afirma Tambla, para quem São Vicente merece cinema, São Vicente é cinema.  

“Temos público, temos pessoas para fazer cinema, ambiente, alma. É fácil congregar esforço e sinergia. Também temos know how, porque cinema é uma arte que depende muito de técnica e tecnologia, que tradicionalmente temos nesta ilha. Fazemos cinema com coração, falta-nos agora fazer também com cabeça. Temos estado em CV a fazer muita experiencia, mas precisamos de um pensamento virado para cinema. Mas este pensamos terá de surgir de uma construção colectiva da parte de agentes, instituições, privados e organismos internacionais”, perspectiva.

Sem nunca se repetir, este ano o festival Oiá inovou ao suprimir os concursos, seja de filmes ao minuto, universitário, de ficção ou documentário, com a justificação de que se está a sair de uma situação que afectou duramente o sector criativo, que continuar a lutar para se reerguer. A alternativa foi uma selecção de curta e longa metragens para exibir nos bairros e na Praça Dom Luís. Tambla Almeida acredita que a escolha foi acertada e conseguiram mexer com a emoção das pessoas, com filmes nacionais e co-produções que extrapolaram a tela no mar. Mas o concurso pode voltar em 2023.

Satisfeita, a organização retribuiu através do reconhecimento de um conjunto de figuras e instituições que têm sido uma mais valia durante todo o percurso do Oiá,  diz Tambla, numa altura em que o cinema em Cabo Verde atingiu o nível de não retorno como espaço de pensamento. Agora é a profissionalização do sector. Neste sentido, foram premiados Sérgio “Tcheta” Ramos, uma figura presente na arte e na cultura do país, um dos herdeiros do Ti Goy e que faz parte de todo o percurso do Carnaval de S.Vicente e um nome incontornável do teatro e do cinema. “Tcheta participou em vários filmes e, já agora em primeira-mão, estamos a desenhar um filme-documentário com ele, que espero começar a gravar já no próximo ano.”  

Foram ainda galardoados, Luís “Karaté” pelo percurso no desporto e por ter feito do mundo do cinema na área das artes marciais. Um campeão que nunca perdeu uma luta e um promotor de iniciativas culturais em Cabo Verde e na diáspora; Manu Cabral, artistas plástico reconhecido e um dos grandes nomes do Carnaval de São Vicente; e o parceiro Bento Forrador, que esteve ao lado da organização deste festival, seja na montagem da tela na baía do Porto Grande e também na intervenção urbana na Praça D. Luís. “É um parceiro que não está na área do cinema, mas entendemos que devíamos reconhecer o parceiro Bento Forrador para mostrar que o cinema também abraça todos os sectores. É o parceiro da primeira ordem do festival Oiá e de outras actividades culturais em S. Vicente.”

Em jeito de remate, Tambla Almeida explica que também foi atribuído um premio virado para o futuro ao projecto Terra d’ Sodad de Santo Antão, como um reconhecimento tendo em conta a dificuldade para realizar fora doa da Praia e do Mindelo e por tudo o que têm feito e continuará a fazer. 

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