Fefa Brito está a viver um momento especial com a retoma da sua paixão pela dança. Após algumas paragens para estudar e porque a conjuntura económica de São Vicente também assim o exigia, este bailarino, que chegou a integrar grupos de dança caribenha na Europa Central, sobretudo na Alemanha e Austria, e a dançar com profissionais brasileiras e cubanas, acaba de criar um novo grupo de dança, que se apresenta no restaurante Boston, no Mindelo. Mas o seu sonho é elevar a dança ao nível da década de 80 e 90 quando esta fazia furor na ilha, pela que já está a equacionar alguns shows no verão. Dançar é natural para os mindelenses, diz Fefa Brito.
Este projecto é a concretização de um sonho que vinha sendo amadurecido há algum tempo, segundo Fefa Brito. “Nunca parei com a dança, mas há oscilações porque um indivíduo tem trabalhar para viver. No entanto, a minha paixão mantém-se e o bichinho da dança voltou agora com tudo. Temos um grupo, que está no restaurante Boston. Fazemos ensaios às terças e sextas-feira, às 18h30. Começamos na semana passada e estamos neste momento com mais de uma dezena e meia de inscritos. São na sua maioria adultos que, depois do horário laboral, querem tirar o stress”, revela este bailarino, para quem a dança é a melhor “terapia do mundo”.
“Combate o envelhecimento e é um bom exercício, tanto físico como mental. A dança traz alegria. Em São Vicente há muitas noites de música. Nós resolvemos fazer algo diferente, estamos a oferecer um ambiente eclético no Boston. E tem corrido bem. Dançamos todos os ritmos, mas tenho uma ligação especial com a salsa”, explica Fefa, com entusiasmo. Aliás, já equaciona subir aos palcos. “Temos esta pretensão. Há uma grande bailarina, que vive na Itália, e que estará aqui no verão. Estamos a pensar fazer algumas apresentações juntos. Mas também temos em São Vicente boas bailarinas. É algo que estamos a pensar com seriedade.”
Fefa conta que começou a dançar desde tenra idade. Sempre praticou desportos, mas destacou sobretudo no futebol, inclusive como federado. Mas, por gostar da dança, levou a ginga para os campos, o que lhe valeu a alcunha de “Samba”. Quando foi estudar na Europa, encontrou um mundo de salões, sobretudo de dança caribenha, onde se integrou. “Senti-me em casa. A dança caribenha tem tudo a ver connosco. É uma dança em que a base é a cultura negra, com muitas misturas que deram origem a ritmos como merengue, samba, salsa, cumbia, tango, etc. É o meu mundo”, saliva.
Após algumas visitas à estes salões, foi convidado para fazer um show na TV, primeiro na Alemanha, depois na Áustria. “Entrei de cabeça. Felizmente consegui conciliar a dança e com os estudos. Cheguei a integrar vários grupos e a dançar com bailarinas de top. Treinava muito sério com bailarinas brasileiras, cubanas…Foi fácil a minha integração porque já dançava vários ritmos. Nesta altura, início da década de 90, a lambada estava em alta”.
Concluída a licenciatura, regressou à Cabo Verde. Após uma pausa para repor as energias, foi leccionar na Escola Secundária José Augusto Pinto. Teve a sorte de ter uma aluna na sua classe que pertencia a um grupo de dança tradicional. “Ela convidou-me para integrar o seu grupo. Treinávamos no Havana, num espaço que era do Vuca d´Antonin Car, hoje o Design Decor. Depois criei o meu grupo, o Salsa com Sabor. Fizemos um grande show no ´Porão Mindelo`, que entrou para a história da dança em São Vicente”.
Contudo, mais uma vez, fez um stop na dança para voltar à sala de aula para fazer um doutoramento em Filosofia. Retornou em 2007 e, para sua alegria, a dança estava de novo na moda em São Vicente. Decidiu entrar lentamente. Foi júri num concurso de vozes e dança, mas a vitória de Ceuzany ensombrou a vertente dança. “Costumo dizer que a dança é o parente pobre da cultura. Isso acontece não por falta de talento. Ao contrário, temos muitos jovens talentosos, mas não há apoios e nem incentivos para os bailarinos. Foi isso que me fez regressar à dança. Faço isso por hobbie. Mas na vida tudo o que se faz com paixão traz energias positivas.”
Constânça de Pina