A associação Amicachi assinalou ontem a entrada do ano do Rato no calendário chinês com uma noite cultural no CCM cujo ponto alto foi a performance do ilusionista Hwan, vindo directamente da China para a cidade do Mindelo. Este jovem de 24 anos executou o show “mudar de cara”, um truque centenário marcado pela capacidade do artista em trocar sistematicamente de máscaras em frações de segundo. Uma execução que deixou no público a natural curiosidade de descobrir como isso é possível sem que ninguém consiga descobrir o segredo.
“Para mim foi o momento alto de uma noite memorável. Sei que os chineses são dos melhores que há no mundo em termos de ilusionismo, mas ver isso ao vivo é outra sensação”, comentava Vitória Sequeira, uma das centenas de pessoas que lotaram o auditório do Centro Cultural do Mindelo para assistir esse espectáculo alusivo à Semana Cultural Chinesa em Cabo Verde.
Como foi dito antes da entrada em cena de Wang Yao Chao, “mudar de cara” é um show com mais de trezentos anos, a única arte considerada segredo nacional na China, ou seja, ninguém está autorizado a revelar como esse processo acontece. Por esta razão não é qualquer artista que sobe num palco para um número dessa natureza. No caso de Wang, começou a aprender essa arte aos 12 anos de idade e é a sua especialidade. “Hoje tenho muita segurança naquilo que faço”, garante o jovem chinês quando questionado por Mindelinsite se não tem receio de cometer um erro e revelar esse grande mistério. Para ele foi um momento mágico actuar pela primeira vez em Cabo Verde.
Esse é também o sentimento do mágico Yang Yi, que apresentou, por sua vez, uma peça baseada na magia tradicional chinesa. Este recorre fundamentalmente a leques coloridas e foguetes de confetes na sua actuação. Este artista confessou ao Mindelinsite que ficou maravilhado com a convivência artística entre as culturas da China e de Cabo Verde. “Foi formidável ver os cabo-verdianos cantando em chinês e executando a nossa arte marcial”, enalteceu o artista.
Na verdade, a oitava Semana Cultural Chinesa, que aconteceu pela terceira vez na cidade do Mindelo, voltou a ser um casamento entre as tradições chinesas e cabo-verdianas. O espectáculo começou com a “Dança do Leão”, em que os executantes imitam os movimentos desse felino considerado uma criatura mítica e guardiã da boa sorte na China e noutros países orientais. A pele dos “leões” foi vestida por quatro elementos dos “Haven Algels”, grupo que, aliás, fez várias actuações ontem à noite. Apresentaram danças tradicionais tanto de Cabo Verde como da China e foram bastante aplaudidos pelo público. Segundo Bruno Soares, presidente do grupo, a preparação começou com três professores chineses em S. Vicente e continuou depois que regressaram à China. O grupo, composto por 12 elementos, manteve-se focado nos ensaios com o objectivo de fazer o melhor espectáculo possível. “Foi fácil adaptarmos a essas danças porque esta já é a terceira vez que fazemos dança chinesa”, explica Soares.
Conforme o dançarino Márcio Monteiro, o grupo deu o seu máximo, mas não esperava que as coisas saíssem na perfeição porque está envolvido em outros projectos, nomeadamente no Carnaval. Mesmo assim ficou satisfeito com o resultado.
Música, arte marcial, dança e magia foram os ingredientes da segunda edição da semana cultural chinesa na cidade do Mindelo. Organizado pela Amicachi – Associação Amizade Cabo Verde e China – o evento marcou a entrada do ano do Rato no calendário chinês, um ano que, segundo José Correira, presidente da organização, será de desafios, perseverança e determinação. E foram estes os pilares, diz, que têm orientado essa associação criada por 10 ex-estudantes cabo-verdianos em 2011, com o intuito macro de ajudar no estreitamento dos laços comerciais e culturais entre Cabo Verde e China. Hoje, nove anos depois, segundo Correia, a Amicachi já é uma organização credenciada entre o grupo de 60 associações de amizade existentes na África. Por esta razão irá organizar o segundo encontro dessas entidades em Cabo Verde. Um evento que irá reunir no arquipélago governantes de diversos países africanos e empresários do continente.
Kim-Zé Brito