Mara Filipe, passista com alguns anos de estrada no Carnaval d’Soncent, foi coroada ontem à noite “musa d’zona Montsú 2020”, num concurso com a participação de oito candidatas. A jovem obteve 141,9 pontos e não conteve a alegria de ser a vencedora dessa prova, que visa descobrir mulheres talentosas em Monte Sossego e dar-lhes o devido destaque nos desfiles.
“Estou muito feliz porque estou a concretizar um sonho e um objectivo. Queria agradecer à minha mãe, à direcção de Montsú e às muitas pessoas que me ajudaram de várias formas, mas quero também dar os parabéns às minhas colegas”, comentava a jovem de 20 anos ainda envolvida pela emoção do prémio, ela que promete “arrasar” no Carnaval 2020.
Todas as oito candidatas vão assumir um papel relevante no desfile de Montsú em 2020, mas espalhadas por diversas alas e como destaques dos carros alegóricos. O enquadramento de cada uma, diz o presidente do Monte Sossego, será discutido de forma individual. No caso de Mara Filipe, ela ganhou o direito de integrar um grupo de passistas, enquanto “musa d’zona”, que já conta com algumas dançarinas escolhidas pela direcção.
“Em relação à Rainha da Bateria decidimos que este ano não haverá concurso, mas sim uma escolha directa”, aproveita para anunciar Patcha Duarte, que se mostrou satisfeito com o resultado do evento de ontem à noite. Como revelou ao Mindelinisite, a escolha do local – o polivalente de Monte Sossego – suscitou algumas reticências devido ao nível pretendido para o espectáculo, mas, para ele, a aposta foi ganha.
Montsú, como o grupo é carinhosamente tratado, faz tempo meteu a engrenagem do Carnaval 2020, tendo em mente o mesmo objectivo: jogar para ganhar. Como Patcha reconhece, numa competição nem sempre é possível vencer, mas, realça, o grupo tem sempre que atingir o seu primeiro objectivo: ultrapassar a meta anterior e, desse modo, melhorar o selo de qualidade do carnaval de São Vicente.
“E estamos a trabalhar arduamente nesse sentido. Como ficou claro nesta noite, o nosso enredo já está na forja, contamos trazer para as ruas de morada a essência da mitologia cabo-verdiana, um tema que foi da escolha dos nossos carnavalescos. Foram eles que fizeram a pesquisa científica, tendo a direcção de Monte Sossego aprovado essa proposta”, revela esse dirigente, que não se mostra preocupado se o desfile do próximo ano terá cinco grupos, até porque, diz, ninguém confirmou ainda esse cenário em nota oficial. “Para nós é um pormenor irrelevante porque trabalhamos sempre para suplantar o nosso nível.”
Enredo com enorme campo de criatividade artística
O enredo “Nôs terra – mitos, contos e lendas” é uma proposta que Montsú tinha em cima da mesa há cerca de dois anos. Segundo o artista plástico Valdir Brito, o tema esteve guardado à espera de uma pesquisa, que foi agora concluída. “Basicamente aborda Cabo Verde na sua vertente mística e mágica”, comenta esse mentor, que desenvolveu o projecto em parceria com o seu tio e carnavalesco Boss Brito.
No fundo, aquilo que essa dupla propõe é resgatar as estórias e lendas contadas nas noites de lua cheia à porta de casa pelas gerações antigas. Uma tradição oral que tem vindo a desaparecer, pelo que Montsú quer resguardar e emocionar os foliões e apreciadores do Carnaval em 2020. “São mitos e contos de Cabo Verde e sobre Cabo Verde que certamente vão mexer com o imaginário e a memória das pessoas”, frisa Valdir, para quem esse tema dá aos artistas plásticos um campo de criatividade bastante vasto na concepção dos andores. Dando seguimento ao processo de inovação em curso nesta área, realça o artista, Monte Sossego vai aplicar ideias novas e trazer carros alegóricos capazes de surpreender os espectadores.
Kim-Zé Brito