O ministro da Cultura e o presidente da CMSV garantiram ontem o necessário apoio para que o Mindelact possa perdurar no tempo e melhorar a qualidade dos espectáculos teatrais. Ambos fizeram questão de tocar neste ponto pelo impacto cultural e visibilidade gerados por esse festival, que este ano celebra a sua 29ª edição sob a bandeira da Liberdade.
“Em momentos difíceis estivemos juntos e continuaremos esta caminhada. Anteontem tive uma conversa com a sra directora e eu disse para que não se preocupasse porque todo o nosso compromisso será correspondido”, enfatizou o edil Augusto Neves na cerimónia de abertura do festival, que decorre de 3 a 11 de novembro, sob o lema da Liberdade.
O edil de S. Vicente lembrou que há guerras eclodindo na Europa e Médio Oriente, que começam a ter os seus reflexos negativos em Cabo Verde. Mas assegurou que a CMSV não irá dar as costas a um evento como o Mindelact que dinamiza a cidade do Mindelo e é também uma das suas marcas.
O festival, dizia o ministro da Cultura, ultrapassa Mindelo para ser uma marca de Cabo Verde, da criatividade, resiliência e resistência do próprio sector artístico. E mais: Abraão Vicente acha que o Mindelact pode ser visto como um símbolo da liberdade existente em Cabo Verde, país onde as pessoas podem exprimir as suas ideias e convicções e onde são aceites espectáculos das artes cénicas que noutras paragens seriam censurados. “E Mindelo tem sabido receber todas as peças com a mesma abertura de espírito que, diria, ultrapassa o próprio conceito de morabeza”, salientou o governante, que já está oito anos na tutela da Cultura, mas que tem vindo a acompanhar os espectáculos do Mindelact há pelo menos vinte anos.
A sessão de abertura decorreu ontem à noite no CNAD e foi marcada por uma ovação à memória do falecido Daniel Monteiro, um dos fundadores do festival e ex-presidente do Mindelact. A pedido do encenador Manú Pretu, os presentes subiram ao palco, formaram uma meia-lua e deram uma salva de palmas durante um minuto. Um momento que mobilizou uma energia colectiva para o ambiente no pátio do Centro Nacional de Artes e Artesanato. Um instante testemunhado e participado por João Branco, encenador português cujo nome está impregnado na história do festival e do teatro em Cabo Verde. Afirmou, aliás, que as suas raízes familiares estão no Porto, mas as teatrais estão na cidade do Mindelo, onde se fez homem do teatro.
Branco enalteceu o facto de ter nascido uma licenciatura em artes cénicas em S. Vicente – “um facto histórico” – e disse que este é o momento em que mais criações nacionais são estreadas num curto espaço de tempo na história das artes performativas. No tocante à programação do festival incidiu a sua atenção no projecto Tripé, que está a ser implementado há 2 anos com o envolvimento de três organizações culturais: o Mindelact, a associação Raiz di Polon e o Projecto Chiquinho, com o apoio da Pró-Cultura, do Instituto Camões e da fundação Calouste Gulbenkian. “Apraz também registar que a maioria das criações programadas este ano são dirigidas, escritas e interpretadas por mulheres”, pontuou.
E uma das mulheres presentes no Mindelact ´23 é a portuguesa Joana Craveiro, que confessou o agrado por poder fazer parte do evento e que este ano celebra a Liberdade. Nascida em 1974, diz, logo depois da Revolução dos Cravos, confessa que gostaria de ter tido a chance de fazer parte da resistência contra o colonialismo português. Amantes da liberdade, aproveitou o palco para homenagear o povo palestino, que, disse, está a ser aniquilado pelas bombas israelitas.
Enquanto porta-voz dos mecenas, o empresário Luís Vasconcelos acentuou que o casamento entre o Mindelact e os patrocinados é feito de afectos, que deram origem a um festival que alcançou uma enorme repercussão internacional. Parafraseando o poeta Corsino Fortes, diria que esse djunta-mon das empresas com o Mindelact permitiu dar o golpe de estado no paraíso e firmar-se como o melhor festival de teatro do continente africano.”
A edição deste ano decorre de 3 a 11 de novembro com peças da autoria de companhias e actores de Cabo Verde, Portugal, Brasil, Espanha e África do Sul, que vão apresentar cerca de 40 espetáculos em cinco palcos.