Cruzeiros do Norte transforma Lajinha em passarela do Carnaval: Grupo disponível a repetir desfile todos os anos pelo verão

O areal da Lajinha foi transformado ontem à tarde numa passarela do samba com um desfile inédito do grupo Cruzeiros do Norte, que aproveitou essa orla marítima da cidade do Mindelo para lançar um apelo à preservação da biodiversidade marinha. Aliás, relembra o maestro Nuno Gonçalves, a letra da música cantada pelo trio e suportada pela batucada, pergunta por onde anda a ave Fragata. “Desde 2016 que não se tem visto a ave em Cabo Verde. Por isso, a música diz: Fragata, ka sabê se ê catarata kum tem na oie ou se bo ta prope extinta.” Nuno que se mostrou emocionado e grato pela performance da batucada.

Mensagem à parte, o ambiente vivido na praia demonstrou o quanto o povo mindelense estava ansioso por voltar a sentir a “vibe” do Carnaval. E foi um justamente no calor do verão, à beira-mar, que uma multidão aplaudiu os 220 figurantes distribuídos por nove alas.

Foram quase duas horas de folia num desfile aberto pelos Mandingas da Ribeira Bote. Depois seguiu a malta de Cruz João Évora com trajes feitos a partir de lixo recolhido nas praias de S. Pedro, Lazareto, Cova d’Inglesa e na Lajinha. Com o Cruzeiros do Norte deram as mãos o grupo Professores do Mindelo, cujos desfiles no Carnaval do Mindelo são marcados pela confeção de indumentárias provenientes de materiais reciclados, e alguns elementos do Samba Tropical. Uma “solidariedade” que agradou Jailson Juff, presidente do Cruzeiros do Norte. Ele que foi invadido pelo sentimento de dever cumprido no término do show já noite.

Segundo o dirigente do Cruzeiros, muita gente duvidou do sucesso da iniciativa, incluindo entidades governamentais. “Espero que a partir de agora possamos ter apoio das entidades ligadas ao sector marítimo porque viemos aqui brincar o Carnaval, mas trazendo uma mensagem importante que é a conservação da nossa riqueza marinha”, frisa Jailson Juff, para quem esse desfile foi um agradável desafio por acontecer na areia, e não no asfalto.

O desfile, prossegue, foi também aproveitado para a captação de imagens destinadas a um documentário sobre a biodiversidade. O projecto decorre até o dia 10 de setembro, pelo que, segundo Jailson Juff, ainda há tempo para quem quiser ajudar o Cruzeiros do Norte.

Este é o segundo desfile que o grupo realiza numa praia. No ano passado escolheram a escondida Jôn Debra devido ao auge da pandemia da Covid-19. Desta vez apostaram na Lajinha, por ser uma praia citadina e com extensão suficiente para permitir um pequeno desfile. “Lajinha é um local ideal porque queremos também apelar à conservação da enseada de corais”, frisa Juff. Este adianta que, se surgir apoio, o Cruzeiros está disposto a realizar o desfile todos os anos pelo verão.

Para o modelo Cady, o projecto do Cruzeiros do Norte merece ser apoiado pelo tema escolhido e pelo facto de mostrar que a praia da Lajinha pode ser palco de eventos culturais, como um desfile de Carnaval. “Foi uma ideia brilhante e sentimos uma alta vibe das pessoas, que estavam a precisar mesmo de curtir o Carnaval”, comenta.

Esta opinião corresponde ao sentimento de Kathy e Liliana, rainha e figurante do desfile. A primeira ornamentada por um traje confecionado pelo artista Noia, estava radiante e feliz por sentir que o show teve sucesso. “Mostramos que tudo o que pensarmos pode ser realizado”, sublinha. “Sentimos um ambiente com muita vibração. O máximo. As pessoas estavam mesma a precisar disto”, reforça Liliana.

A entrada do Cruzeiros na “passarela” da Lajinha foi comandada por um grupo de dançarinos, liderado por Willy. Segundo este jovem, a coreografia foi preparada em cima dos joelhos, mas pensada para ter a sua qualidade. “Pensamos esta coreografia como se fosse algo para um desfile oficial. Este foi mais um trabalho para homenagear dona Lily Freitas, presidente do Vindos do Oriente, que nos apoiou e incentivou. Onde ela estiver, certamente que continuará a olhar por nós porque sabe que trabalhamos sempre de forma incansável”, enalteceu Willy, que deu nota máxima ao “público fantástico” presente na praia da Lajinha.

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