O Centro Cultural do Mindelo recebe nos dias 27 e 28 do corrente mês um espectáculo inédito e ousado intitulado “Conversa d’ Dod”, uma proposta teatral inspirada em uma área pouco explorada em Cabo Verde, onde cada actor criar a sua personagem, que encontram uma ligação a volta do tema “sperança”. A peça baseia-se no teatro do absurdo, mas também no metateatro, que é uma técnica encontrada em textos como Hamlet de William Shakespeare em que os actores remetem-se para si mesmos enquanto obra de representação, e no psicodrama.
Ao Mindelinsite, a produtora Silvia Monteiro explica que o projecto surgiu na sequência de um anterior, de 2020, montado na Organização das Mulheres de Cabo Verde e que abordava temas do universo feminino. Junto com uma outra colega decidiram convidar agora algumas pessoas de faixas etárias diferentes, na reforma no activo e jovens a frequentar o segundo ciclo da escola secundária para montar um novo projecto.“Somos um grupo muito diversificado. O nosso objetivo é fazer teatro em São Vicente, ilha em que há uma grande aceitação e participação. Queremos fazer um teatro de inovação.”
Com este propósito, prossegue esta professora e agora produtora, criaram uma proposta artística criativa que propõe levar o público a perceber todo o processo de montagem de um espetáculo, como também os desafios e os problemas que tocam os artistas de teatro para colocar uma peça teatral no palco. Sobre esta peça em si, Silvia Monteiro informa que decidiram mergulhar em uma área pouco explorada em que cada actor criou uma personagem e, dentre estes, se encontrou uma ligação.
“Baseamos no teatro do absurdo. Vamos trazer coisas que podem parecer estranhas e insólitas, com personagens muitas vezes visadas dentro da sociedade, mas vamos trazer também um certo metateatro e psicodrama, inserindo um discurso critico dentro de um texto dramático. Vamos tentar, como o nosso teatro diz, ser um pouco hilariante, introduzindo um pouco de comédia dentro do nosso trabalho. É isso que vamos levar para o Palco do CCM nos dias 27 e 28.”
Com um total de 13 personagens, a professora Silvia Monteiro refere que primeiro surgiram de forma isolada, depois foram-se juntando em subgrupos e, no final, num grupo maior que culminou com a montagem do espetáculo. Ou seja, diz, toda a peça surgiu brotou de personagens aleatórias, sem nenhuma ligação, mas depois foram montando diálogos improváveis e culminou nesta “Conversa d’ Dod”, com a encenação do talentoso e irreverente Adilson “Di” Fortes.
Questionado sobre o nome do grupo, a produtora afirma já iniciaram os demarches para o seu registo no Cartório, visando a criação de uma companhia, contrariando assim a lógica de projectos isolados em que, após um trabalho, cada um segue a sua vida. “Quando participei do projecto Amdjer, foi através de um convite que escutei através da rádio e fui me inscrever. Para além das apresentações no palco, levamos a nossa mensagens também às universidades e nas escolas. Na altura, enfrentamos muitos constrangimentos porque as pessoas tinham os seus trabalhos e outros já integravam outros grupos teatrais. Mas pensamos um dia voltar a apresentar esta peça, que fez muito sucesso.”
Para a montagem de “Conversa d’ Dod”, Silvia Monteiro conta que aproveitou a sua pouca experiência e conversou com pessoas que estão no meio há mais tempo. “Percebi que as pessoas pagam para fazer teatro. No nosso caso, candidatamos a um Edital Fomento à Criação Artística Nacional e fomos contemplados com um apoio, que temos vindo a gerir. Mas não é fácil porque temos de pagar o auditório do CCM, custear os figurinos e os cenários, entre outros”, finaliza.
A peça vai ser apresentada nos dias 27 de maio às 21 horas e 28 às 20 horas, no Centro Cultural do Mindelo. Apesar dos constrangimentos financeiros, o grupo sonha levar este trabalho para outras ilhas, nomeadamente para a vizinha Santo Antão e, posteriormente, para a ilha do Sal.