Carnaval do Mindelo: Cruzeiros fisga o título e destrona Montsú

O grupo Cruzeiros do Norte fisgou o título do Carnaval do Mindelo e destronou Monte Sossego, o grémio tricampeão, com uma diferença pontual de apenas oito décimas. No ano passado, Jailson Juff sentiu que Cruzeiros foi injustiçado e prometeu que o grupo regressaria qual um poderoso exército preparado para ganhar a “guerra” em 2025. O resultado do estrondoso desfile levado ao asfalto da Morada na noite de terça-feira foi compensado com o ambicionado prémio, o quinto da sua história.

Derrubar Monte Sossego do pedestal onde o grupo da “terra d’índio” estava cimentado por 3 anos, demonstrou ser uma missão árdua, mas não impossível. Conduzido pelo “Farol de mil luzes”, Cruzeiros fez uma cruzada vitoriosa, que começou a se desvendar com o anúncio dos prémios. De uma assentada, roçou os títulos de Melhor Bateria, Melhor Música e Melhor Carnavalesco, este último atribuído ao artista plástico Nóia Morais, um dos autores do enredo que CN cantou a dançou na Rua de Lisboa. Acrescentou depois a faixa de 1. Dama e dona Maria José fez as contas: vitória tangencial, mas… uma vitória.

No palanque, Juff era o rosto da ansiedade. Enquanto aguardava o anúncio do segundo lugar, para poder as contas de “sumir”, parecia estar quase a ter um ataque cardíaco. Talvez devido ao suspense do apresentador. Quando, finalmente, recebeu a informação que mais desejava, deu um pulo da cadeira e desceu a escada a correr para festejar o título com a sua torcida no chão.

Passado o momento de euforia, Juff disse à imprensa que o grupo vai agora pensar a sua continuidade nos desfiles do Carnaval do Mindelo. “Para sairmos no próximo ano teremos de dispor de outras condições. Somos o grupo com menos apoios financeiros em S. Vicente, mas, mesmo assim, conseguimos conquistar o título, algo que não é nada fácil”, comentou o presidente do Cruzeiros, para quem esta conquista é fruto do esforço do grupo, que tem recorrido à criatividade para superar barreiras.

Mensagem reforçada pelo maestro Nuno Gonçalves, que representou o grupo no prémio Melhor Bateria. “Este prémio representa o esforço feito por todo o grupo. Temos feito um excelente trabalho porque o pouco dinheiro que recebemos da CMSV e do Ministério da Cultura é aplicado pela direção em prol do grupo, para termos as condições mínimas para desenvolvermos nosso trabalho”, frisa Nuno, que sublinha o facto de CN não ter o apoio de nenhuma empresa de grande envergadura.

Este ano, o CN revalidou o título de Melhor Música, que venceu no desfile anterior em igualdade com Monte Sossego. Emocionado, o compositor e intérprete Edson Oliveira teve dificuldades em exprimir o seu estado de alma. Dedicou o prémio à avó Inocência, pessoa que foi a sua inspiração. “Faço músicas do Carnaval, mas sem pensar em ganhar. Estou no Carnaval desde 2008, já cantei músicas de outros compositores, e acho que todo este percurso aconteceu naturalmente”, comenta Sampé, como é tratado, reforçando que qualquer um dos outros compositores poderia vencer o prémio musical deste ano.

Outra faixa conquistada pelo grupo foi a de 1. Dama, que ficou com Dottie, filha de um cabo-verdiano e holandesa. Fruto de uma miscigenação, a jovem admitiu que foi uma enorme emoção participar no desfile e conquistar o título para o Cruzeiros do Norte.

Montsu ultrapassado por 8 décimas

O grupo Monte Sossego esteve prestes a revalidar o título. Foi ultrapassado por apenas 8 décimas, decisão que António “Patcha” Duarte aceita com desportivismo. “Como costumo dizer, o júri é soberano. Vamos agora aguardar serenamente os justificativos para reagirmos em consonância”, declarou o presidente de Montsu, reforçando a responsabilidade do grémio em continuar a trabalhar para elevar o nível do Carnaval do Mindelo.

No seu regresso ao Carnaval do Mindelo, após 4 anos longe, Vindos do Oriente apostou numa merecida homenagem às figuras das falecidas Lily Freitas e Cely Freitas, mãe e filha que ocuparam os cargos de presidente e vice-presidente do grémio. Para Dirce Vera-Cruz, ficar em 3 lugar não foi um demérito pelo nível do trabalho apresentado e porque o grande objectivo foi alcançado: render reconhecimento à mulher cabo-verdiana e, em particular, a Dona Lily e Cely. “Ter visto familiares da Dona Lily voltarem a celebrar o Carnaval foi, em si só, uma estrondosa vitória”, considera Dirce Vera-Cruz, que promete um VO mais pujante em 2026.

O único prémio conquistado pelo Vindos foi o de Segunda-dama, atribuída a Aracy Medina. Para ela, esta conquista simboliza uma grande vitória, por ser no ano do regresso de VO ao activo e que, por coincidência, celebra a força da mulher cabo-verdiana. “O desfile foi uma merecida homenagem a Dona Lily e Cely, duas mulheres que nos marcaram de várias formas. Como diz a nossa música, foram duas ´stocadas d’ambjer´, que nos mostraram que as mulheres podem líderes em qualquer área”, diz Aracy Medina.

Wendy, a guerreira vencedora

Este ano, a expetativa em torno das rainhas de bateria era maior, depois do inusitado empate a quatro no concurso anterior entre Brodjinha, Wendy, Leidy e Milla. Agora as contas estavam mais renhidas com o acréscimo de Josiane, ou seja, cinco concorrentes. A coroa foi atribuída a Wendy Simone, passista de Monte Sossego, que se incorporou na personagem de uma guerreira índia.

“Sinto-me realizada com este triunfo. Foi algo pelo qual lutei arduamente, sem desmerecer a entrega das minhas colegas”, declarou a jovem, que se mostrou orgulhosa do seu percurso e da sua evolução como passista. Dedicou o prémio a todos aqueles que estiveram ao seu lado.

Outros títulos muito aguardados eram os do Mestre-sala e da Porta-bandeira. Ambos ficaram com o Estrela do Mar, que voltou a apostar na dupla Ské Évora e Mirna. O dançarino renovou a faixa, enquanto Mirna venceu o prémio pela primeira vez. Quando o seu nome foi anunciado, a jovem desatou aos prantos. “Fiquei muito emocionada. Estou orgulhosa da minha pessoa. No ano passado não conquistei o título, mas serviu para dar-me mais base e experiência. E eu disse que regressaria este ano para arrebentar na passarela”, comentou Mirna, para quem essa conquista teve um sabor mais doce pelo facto de o seu parceiro ter renovado o prémio.

A realeza ficou nas hostes do grupo Montsu, que elegeu a Rainha Helga Castro e o Rei Josias Fonseca. “Este prémio foi algo incrível. Todas éramos rainhas, mas ser coroada a Rainhas das rainhas é uma sensação inexplicável”, reagiu assim Helga Castro, que se mostrou impressionada com o nível do desfile de Monte Sossego. “Sem igual!”

Josias Fonseca foi outra figura de destaque que se emocionou com a sua conquista. “Isto aconteceu porque é a realização de um sonho de infância. E acho que caiu no momento certo porque aconteceu no desfile dedicado à minha zona.”

Coube ao jovem Maky Rendall, concorrente do grupo Flores do Mindelo, o título de Cavalheiro. Em conversa com Mindelinsite, explica que inicialmente estava a ver essa estreia como mera diversão. “Mas, após ver o regulamento, decidi apostar para ganhar”, afirma. Deste modo, Maky refez o seu traje, que foi desenhado pelo irmão Alex Rendall, e trabalhou com a costureira Adalgisa. “Somos uma equipa de estreantes, mas fizemos um excelente trabalho”, comenta o jovem artista, que apostou num traje de papagaio, a condizer com o título de Rei Arara.

Reconfigurando as informações, o grupo Cruzeiros do Norte ganhou o concurso, seguido de Monte Sossego, Vindos do Oriente, Estrela do Mar e Flores do Mindelo.

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