Camila Silva: “Há meninas que me perguntam se lavo, passo a roupa e cozinho”

A rainha de bateria brasileira Camila Silva confessou ao Mindelinsite que gostaria de ver as adolescentes de todas as classes sociais, em especial as mais desfavorecidas, a acreditar nas suas potencialidades e a lutar para realizar os seus sonhos, mesmo que seja desfilar por uma importante escola de samba. Mulher “simples”, esta professora de samba espelha-se na sua história e empenho para mostrar que tudo é possível quando a fantasia comanda a vida. Hoje ela é uma das principais referências nas passarelas do samba em São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto rainha da bateria dos grupos Vai-Vai e Mocidade Independente de Padre Miguel.

Vista como uma estrela, esta ex-actriz de telenovela estranha como muitas vezes é abordada na rua. “Há meninas que chegam e falam: ‘Ah meu Deus, você limpa casa, cozinha, passa roupa?’. Respondo: ‘Claro que sim, sou mãe, ando de ónibus e faço tudo o que uma mulher normal faz!’ E ficam deslumbradas”, conta Camila, 32 anos, que se encontra em S. Vicente a ministrar aulas às musas dos grupos mindelenses, no âmbito da terceira edição do Carnaval de Verão.

Esta dançarina confessa que se entrosou rapidamente com o ambiente social e a própria cidade do Mindelo. No dia seguinte à chegada a S. Vicente, ela, Dudu Nobre e restantes colegas foram a uma roda de samba nas instalações da FIC, organizada pelo grupo Monte Sossego e animada pelo músico Djony do Cavaco, e sentiu-se logo em casa. “Comecei a interagir com as musas porque esse relacionamento é fundamental. Aprendi até a dança dos mandingas. Não saiu aquela coisa, mas adorei”, revela Camila Silva, que se apaixonou também pela praia da Lajinha.

“Realmente há uma afinidade enorme entre o Brasil e Cabo Verde. É como se estivesse no Brasil. E eu me sinto muito grata por pisar uma parte da África, terra dos nossos ancestrais”, afirma esta personagem do programa Escolinha do Barulho, que, diz, gostaria de regressar ou até ficar mais tempo em S. Vicente.

Camila está ansiosa para desfilar no sambódromo do Mindelo amanhã, dia 6 de Agosto, à noite. Ela já foi prevenida que o percurso é exigente, mas confessa estar preparada para aguentar o “tranco”. Por estes dias já se preparou e passou vários conhecimentos às passistas inscritas nas suas aulas. Na sua maioria, as musas já sabem sambar, pelo que o trabalho dela consistiu em lapidar as posturas, melhorar o movimento dos braços e do quadril, focar na elegância, dar dicas sobre o controlo de respiração, as paradinhas para descanso, a interacção com o público e até a pose para as máquinas fotográficas.

Para Mila, passista de Flores do Mindelo, a formação com a brasileira foi bastante enriquecedora. “Ela trouxe técnicas inovadoras sobre como ‘cavalgar’ com mais leveza e elegância, usar os braços, fazer dribles com os pés… Aprendi muita coisa”, confessa Mila, que aproveitou o ensaio técnico realizado ontem no pátio da Gare Marítima para testar os seus novos conhecimentos.

Concluída a formação, Camila Silva espera agora mostrar o resultado do workshop esta terça-feira na Rua de Lisboa no desfile conjunto dos foliões e músicos do Mindelo e do Rio de Janeiro.

Kim-Zé Brito

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