Silêncio, calou-se uma das vozes mais potentes e melodiosas da música tradicional cabo-verdiana: Natch. Hoje faleceu na Cidade do Mindelo o artista dos pés descalços, conhecido por entoar Mornas na calada das noites de Mindelo, sentado numa esquina, tantas vezes sem plateia.
Conforme apurou o Mindelinsite, o artista foi internado de madrugada com sinais de uma pneumonia e acabou por falecer por volta das 9 horas desta manhã no hospital de S. Vicente.
Figura familiar da zona litorânea da Cidade do Mindelo, Djeno, como também era tratado, deixou alguns amigos com saudades. Lela Soares descreve o malogrado como um homem de paz, simples que se embrenhava na beleza da Morna, seu género musical de preferência. Lamenta a partida do amigo, mas resta-lhe a felicidade de saber que conseguiu registar a sua voz antes de partir com o CD Benção.
Como relatou o jornalista Fonseca Soares na sua página no Facebook, Natch era dono de uma voz extraordinária, rouca e bela, mas que sempre esteve suspensa pelas “voltas da vida”. “Felizmente, numa dessas curvas da vida houve luz e sobriedade necessária, além de esforços de músicos e amigos e, sob a batuta do Manel Candinho, nasceu ‘Benção’, a obra que ficará para sempre a testemunhar essa voz encantadora”, escreve.
Com 9 faixas, o disco foi visto como uma “bênção” pelo produtor Rachel Sylva, residente na França. Em conversa com o Mindelinsite a quando do lançamento do CD, este emigrante salientou que o trabalho começou a ser pensado no decurso da candidatura da Morna a Património Cultural. O disco é composto por mornas e coladeiras e foi bem recebido pelos fãs de Natch, que há muito queriam ver a sua voz registada num trabalho discográfico.
Nascido em S. Tomé, o artista veio ainda criança para S. Vicente, onde viveu e morreu como um homem simples, dono de uma sonoridade naturalmente potente, talhada para a interpretação da Morna.