Este ano o Carnaval de São Nicolau sai às ruas mais pobre. Brilho da Zona, um dos três grupos oficiais, ficou fora da festa. O motivo, segundo o presidente Eduíno Gonçalves, prende-se com a falta de fundos e com a necessidade de reflectir a forma como se tem feito o carnaval em São Nicolau, considerado, por ele, a maior manifestação cultural da ilha.
Brilho da Zona é um grémio com 28 anos de existência e já desfila há vários como grupo oficial, apesar de ter também ficado alguns anos sem sair. Aliás, segundo Eduíno Gonçalves, “Brilho” foi pioneiro em estabelecer-se como grupo oficial, “com associação e chapéu”. O grupo desfilou pela última vez no ano passado e, este ano, a direcção decidiu que era tempo de fazer uma reflexão sobre o carnaval de São Nicolau e traçar uma melhor estratégia para o futuro.
Para Eduíno Santos, há uma tentação em não se entender o carnaval de São Nicolau, tanto por parte dos responsáveis, como dos governamentais. “Os grupos querem igualar-se ao carnaval do Mindelo, que é um carnaval completamente diferente. Há um conjunto de factores que tornam único o carnaval de São Nicolau, movida por muita vontade de colocar a festa nestas ruas estreitas e é isso que deve ser explorado”, explica o presidente do Brilho da Zona, para quem os grupos têm tido sérias dificuldades em colocar o carnaval ao nível que já esteve anos atrás, mesmo com os apoios recebidos da Câmara Municipal e do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas. “Fomos fazendo o carnaval por força de vontade, mas foram criadas muitas dívidas. Chegamos ao ponto de parar, reorganizar as coisas e reflectir o carnaval que queremos para São Nicolau.”
Entretanto, o que Eduíno está a reivindicar não é precisamente dinheiro, como explica, mas sim mais atenção e melhor acompanhamento e apoio na organização e a criação da Liga do Carnaval de São Nicolau.
Ribeira Brava “vestida” de folia
Depois do grande atraso nos desfiles de sábado, que só aconteceram de madrugada, com o grupo Copa Cabana, e de manhã, com o Estrela Azul, ontem os grupos saíram mais cedo e vestiram Ribeira Brava de cores e folia, ao se juntarem e festejar juntos o carnaval no terreiro, deixando ainda mais tensas as expectativas para o desfile oficial, que acontece amanhã, quarta-feira. O desfile foi acompanhado pelo ministro da Cultura e Indústrias Criativas, que considerou que o carnaval está mais fraco relativamente ao ano anterior, mas por conta da celebração em 2018 dos 150 anos do grupo Copa Cabana, que levou mais pessoas à Vila e contou com um apoio mais expressivo. Entretanto, segundo Abraão Vicente, os dois grupo que saíram este ano, Copa Cabana e Estrela Azul, apresentaram a qualidade que era de se esperar.
Ficou, no entanto, a sensação de que é preciso mobilizar mais recursos e não necessariamente dinheiro do Estado, considerou Abraão Vicente. “Nesses três anos de mandato, investimos mais dinheiro no carnaval do que aquilo que receberam nos últimos vinte anos. No entanto, acho que é preciso uma maior organização dos grupos ao longo do ano, fazendo colheita de fundos, até da própria sociedade civil, que estaria disposta a financiar pouco a pouco, através de várias acções de recolha de fundos”. A título de exemplo, aponta os bailes que podem ser feitos durante o ano, entre outras actividades.
O que os grupos não podem fazer, para o ministro da Cultura, é ficar à espera e depender somente dos 800 contos disponibilizados pelo Governo a cada um. Montante que, no seu entender, é pouco para a qualidade do carnaval feito em São Nicolau.
No próximo ano, segundo Abraão Vicente, mais um grupo entrará para os desfiles. O Estrelas do Mar, que o Governo compromete-se a financiar no mesmo valor disponibilizado aos grupos da Vila. Abraão Vicente anunciou ainda um “pequeno aumento” no montante dado ao carnaval de São Nicolau, com vista a uma melhor organização e um evento cada vez mais profissional.
Um outro aspecto que precisa ser melhorado são os atrasos que, para o ministro, podem até ter o seu charme, mas, quando muito prolongados, tornam o carnaval muito cansativo no primeiro dia. Quanto às reivindicações feitas por alguns grupos, que exigem o mesmo apoio dado ao carnaval de São Vicente, Abraão Vicente considera incomparáveis as duas realidades, com dimensões e forças completamente diferentes. “O carnaval de São Nicolau receberá mais apoio a partir do momento que tiver uma melhor organização”, explica.
O ministro chama atenção também para a necessidade de se afastar a influência de partidos políticos da feitura do carnaval, uma vez que, segundo ele, tem havido tentativas de desencorajamento dos grupos nos desfiles, como estratégia para a campanha política que se aproxima e para que algumas pessoas possam aparecer depois como os “salvadores da pátria”.
Natalina Andrade (Estagiária)